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Capítulo 2 Discutindo a Avaliação a Distância

Avaliação na educação a distância

Nosso percurso até aqui pretendeu esclarecer conceitos básicos no processo de ensino e de aprendizagem, incluindo a avaliação como um componente desse processo. Há que se destacar que o avanço das aceleradas tecnologias de comunicação e informação coloca cada vez mais em evidência a educação a distância. A expansão dessa modalidade traz em seu bojo, em seu arcabouço, a necessidade de mudança nas formas de pensar e fazer a educação, levando em consideração as mudanças paradigmáticas necessárias à implementação do modelo de ensino e aprendizagem baseado no uso das novas tecnologias.

A compreensão dessa base é necessária para que possamos entender que na EAD o que muda é a forma, e não a essência do processo educativo. E por quê? A resposta pode ser porque todo conjunto de decisões tomadas pelo professor para avaliar seu aluno e, consequentemente, seu ensino, não é neutro, nem arbitrário, ao contrário, a atitude de avaliar é carregada de intenções e percepções que se traduzem em modos de conceber o mundo, o homem e a sociedade. Essas intenções são orientadoras das políticas educacionais no âmbito da gestão da educação, tanto na educação presencial quanto na EAD, assim como são norteadoras da prática pedagógica do professor na sala de aula, mesmo que essas salas sejam virtuais.

Isso é uma preocupação que fica clara na própria legislação, tanto na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, como em trechos do Decreto nº 5.622, de 19 de dezembro de 2005, que regulamenta o art. 80 da LDB, como podemos ver a seguir:

Art. 1º
[...]
§ 1o A educação a distância organiza-se segundo metodologia, gestão e avaliação peculiares, para as quais deverá estar prevista a obrigatoriedade de momentos presenciais para: I - avaliações de estudantes;
[...]
Art. 4º A avaliação do desempenho do estudante para fins de promoção, conclusão de estudos e obtenção de diplomas ou certificados dar-se-á no processo, mediante:
I - cumprimento das atividades programadas; e II - realização de exames presenciais.
§ 1º Os exames citados no inciso II serão elaborados pela própria instituição de ensino credenciada, segundo procedimentos e critérios definidos no projeto pedagógico do curso ou programa.
§ 2º Os resultados dos exames citados no inciso II deverão prevalecer sobre os demais resultados obtidos em quaisquer outras formas de avaliação a distância.
Art. 13. Para os fins de que trata este Decreto, os projetos pedagógicos de cursos e programas na modalidade a distância deverão:
[...]
III - explicitar a concepção pedagógica dos cursos e programas a distância, com apresentação de:
[...]
c) o sistema de avaliação do estudante, prevendo avaliações presenciais e avaliações a distância; e
[...]
[grifos nossos]

Pelo exposto, podemos ver que a legislação faz exigência de momentos presenciais de avaliação com prevalência, inclusive, sobre aquelas realizadas a distância. É importante deixar claro que a distância não pode ser impedimento para os cursistas que terão, obrigatoriamente, de deslocar-se até um ponto, às vezes até mesmo descontextualizado de seus momentos de ensino e de aprendizagem, para a realização de seu processo avaliativo presencial.

Assim, o processo de avaliação da aprendizagem em EAD, embora possa se sustentar em princípios análogos aos da educação presencial, exige tratamento e considerações especiais, pois seu objetivo fundamental é desenvolver a autonomia crítica em frente a determinados conteúdos e não a simples capacidade de reproduzir ideias, informações ou pontos de vistas que lhes possam ser determinados pelo professor. Além disso, em um sistema de EAD, por prescindir da presença física do professor, é preciso que seja desenvolvida uma metodologia de trabalho que dê oportunidade de reforçar a confiança dos alunos em si mesmos, de modo a lhe possibilitar capacidade de elaboração de seus próprios juízos atrelada ao desenvolvimento de sua capacidade de análise. Nesta sistemática, cabe ao professor a organização do material didático básico que oriente o aluno, contribuindo para que ele questione o que julga saber e os princípios subjacentes a esse saber.

Pelo exposto, percebemos que a avaliação na EAD não busca apenas a averiguação da medida, observando que houve ou não retenção das informações, pois o conteúdo que foi trabalhado é base, suporte para que os cursistas possam problematizar o conhecimento objetivo e possam ter uma posição crítica e reflexiva daquilo que aprenderam/vivenciaram nas disciplinas.

Primeiro, porque um dos objetivos fundamentais da educação a distância deve ser obter dos alunos não a capacidade de reproduzir ideias, informações ou pontos de vista críticos proporcionados por determinado material, professor, ou, ainda, uma perspectiva crítica em frente a determinados conteúdos apenas. O que deve importar realmente para um sistema de EAD é desenvolver a autonomia crítica do aluno, diante de situações concretas.

Nesse sentido, o planejamento de avaliação na EAD deve levar em consideração todos os aspectos pertinentes ao ensino-aprendizagem dos alunos, especialmente, no que tange ao seu crescimento e à força que está adquirindo o seu conhecimento para permitir a quem os acompanha, no caso os tutores presenciais, os tutores a distância e os demais envolvidos no processo, aquilatarem o seu desenvolvimento em cada situação de aprendizagem proposta. Portanto, toda e qualquer avaliação na EAD deve ser muito bem planejada de modo a prever, antecipadamente, todas as possíveis ações que serão realizadas pelos envolvidos no ambiente virtual: alunos, tutores e até mesmo o material didático.

Outro fator relevante para ser considerado na EAD é o índice de evasão que se constitui em um indicador de análise de efetividade nessa modalidade de ensino, pois, dependendo das características e do modelo de um sistema de EAD, o aluno tanto pode ter um sentimento forte de pertencimento da instituição que faz a oferta da EAD ou, ao contrário, de completo isolamento em relação à instituição, o que poderá ser fator decisivo em sua permanência ou de sua desistência no curso escolhido.

Há indicadores de qualidade de cursos de graduação a distância, estabelecidos pelo MEC, que, embora não tenham força de lei, devem ser observados e respeitados por aqueles que estão envolvidos nessa modalidade de ensino e cujo princípio mestre é de que não se trata apenas de tecnologia ou de informação, mas se funda na educação da pessoa para a vida e para o mundo do trabalho. Os indicadores de qualidade, compostos de dez itens básicos, devem merecer a atenção das instituições que preparam seus programas de graduação a distância.

Os dez itens são os citados a seguir:5

  • promover a integração com as políticas, as diretrizes e os padrões de qualidade que são definidos para todo o ensino superior e para cada curso em particular. Os alunos da EAD deverão receber as competências cognitivas, as habilidades e atitudes que propiciem o desenvolvimento do aluno como pessoa, o exercício da cidadania e a qualificação para o trabalho com o diploma dos cursos EAD tendo o mesmo valor que o diploma de cursos presenciais;
  • elaborar o desenho do projeto do curso mantendo a identidade própria da EAD, ou seja, essa modalidade não é a simples transposição do presencial; exige um desenho, uma lógica, linguagem, recursos tecnológicos e pedagógicos, administração, avaliação etc. adequados às suas características, visando à autonomia do aluno;
  • formar uma equipe profissional que seja multidisciplinar, que vá além dos professores especialistas e conte com profissionais das diferentes TICs;
  • promover a comunicação e a interatividade entre professor e aluno, tendo o aluno como foco, mas que seja facilitada pelas tecnologias e oportunize a interação entre os polos da educação;
  • priorizar a qualidade dos recursos educacionais que atendam à lógica da EAD;
  • possuir infraestrutura de apoio que mobilize além dos recursos humanos e materiais e se estenda aos equipamentos disponíveis no mercado, de forma a atender da melhor maneira à proposta dos cursos EAD;
  • estar atento para a permanente avaliação da qualidade, que, por seu caráter diferenciado e pelos desafios que enfrentam, contemple um processo avaliativo sistemático, contínuo e abrangente;
  • buscar convênios e parcerias pelos altos custos e investimentos em sua implantação e manutenção é pertinente, e buscar parcerias diversas de modo a garantir elevado padrão de qualidade ao curso e legitimidade ao diploma oferecido;
  • fazer constar no edital as informações sobre o curso de graduação a distância que proporcionem o entendimento dos atos autorizativos e os direitos dos graduados no referido curso;
  • fazer a previsão de custos de implementação e manutenção da graduação a distância. Visto ser o investimento muito alto, os cursos de EAD devem ser muito bem planejados de modo a diminuir os riscos de evasão ou de interrupção da sua oferta antes de serem finalizados.

Os indicadores citados devem balizar a qualidade dos cursos, mas, para assegurar que a qualidade seja realmente eficaz, será preciso garantir aos alunos conteúdos relevantes e significativos avaliados segundo preceitos legais e técnicos, portanto integrados ao processo educativo.

Demo (1998) diz que a avaliação, como um componente intrínseco da aprendizagem, só terá sentido se for educativa, oferecendo condições para que o estudante aprenda, apostando em diagnósticos constantes que permitam a intervenção e a correção dos rumos que garantam a referida aprendizagem. Como Demo concebe a avaliação dentro do paradigma educacional para a transformação das relações de desigualdade social, sua proposta de avaliação será pautada em princípios democráticos dando ao aluno o direito de reagir, de se defender e aprender, ter a clareza dos critérios avaliativos a que está sendo submetido, sem, no entanto, abrir mão do rigor formal da avaliação.

O citado autor destaca que o sistema avaliativo, se bem estruturado, pode ir além de ser encarado como instrumento capaz de desnudar as mazelas no processo formativo – o falseamento de resultados, verbalizações que não irão expressar a real situação de aprendizagem do aluno – mas, sim, oferecer condições para uma ressignificação da prática avaliativa e, consequentemente, da própria aprendizagem. Demo (1998) propõe, para a avaliação em EAD, processos reconstrutivos em contraposição aos processos de mensuração.

Uma pequena pausa:

Demarcador de início de atividade

6ª ATIVIDADE

Assista ao vídeo abaixo para escrever o que se solicita.

1. O desenho do vídeo mostra uma proposta de avaliação como aquela que sugere Demo (1998). Escreva um pequeno texto sobre o que significaram para você os conceitos aí discutidos.

2. Discuta o que você escreveu com os colegas que estejam próximos de você.

3. Façam um pequeno texto coletivo compatibilizando o seu e os dos colegas.

Demarcador de final de atividade

Os processos de avaliação em educação a distância

Pela discussão que estamos empreendendo, já nos é possível perceber que, como um ato intrínseco da natureza humana, em seu bojo nos permite avaliar desde a aprendizagem dos alunos até programas sociais e educacionais complexos, de modo a nos permitir a correção dos rumos mesmo com um programa em andamento.

Essa possibilidade nos dá potência na tomada de decisões, seja em situações do dia a dia, seja em encruzilhadas das mais diversas, apontando os caminhos mais viáveis, menos onerosos, menos prejudiciais às mais diversas situações da vida privada e profissional, direcionando nossa ação e esforços para as necessidades reais de correção de rumos ou escolha de outros caminhos e soluções a tomar. A retroalimentação de informações permite o replanejamento e a minimização de erros e falhas. Mas, como uma ação permeada de subjetividades, estará sempre plena da cultura, valores ideológicos e normas de conduta que compõem o perfil de quem avalia.

É um tema recorrente em debates e, no caso da educação, seja em que modalidade de ensino for – presencial, semipresencial ou a distância –, as preocupações serão muito semelhantes. Alguns fantasmas estarão sempre presentes dadas as injunções encontradas no processo. No caso da educação a distância, questões como a autoria de trabalhos e atividades assombram mais até que na educação presencial. A revolução ocasionada pelo desenvolvimento acelerado do ensino a distância poderá também trazer uma reviravolta nas questões da avaliação, especialmente no caso da aprendizagem dos alunos, de modo a ser consoante com o perfil dos estudantes da EAD, respeitando a flexibilidade relacionada com os tempos/espaços/lugares em que ela acontece.

Como um dos componentes do processo educativo, entendemos que avaliar na EAD não deve se restringir à mensuração que só constata a realidade ou um estado de coisas. Defendemos que as informações daí oriundas sejam auxílio aos sujeitos do processo educativo – alunos e professores – nos seus atos de aprender e de ensinar pelo uso adequado de instrumentos indicados a cada situação específica. Essa é uma questão deveras desafiadora, se considerarmos que na EAD o professor não dispõe de indicadores visuais e verbais que possam auxiliá-lo na sua tomada de decisão.

Na educação a distância, a avaliação pode ocorrer, resumidamente, de três maneiras distintas:

  • presencial: feita por meio de uma prova, em local e hora previamente marcados e com a presença de um responsável formador que lhe dê legitimidade;
  • a distância por aplicação de testagem presencial ou on-line: testes que são respondidos e enviados a um responsável por e-mail ou formulários próprios para isso, em que o tempo e o local são de escolha do aluno, somente com datas-limite para entrega dos trabalhos e/ou das atividades. No caso presencial, as provas são elaboradas pelo professor e/ou tutores e enviadas aos tutores e desses aos alunos, percorrendo o caminho de volta. Normalmente, o professor que confeccionou os testes ou provas é o mesmo que elaborou o material da disciplina, mas não necessariamente terá que ser esse professor, caso, por exemplo, de adoção de materiais disponíveis em sites de domínio comum a um contingente maior de alunos, como no caso da Universidade Aberta do Brasil (UAB);
  • ao longo do curso ou processual: é feita de modo contínuo por meio das atividades realizadas, participação em grupos de discussão, fóruns, chats, comentários postados, atividades enviadas pelo correio etc.

Em nosso caso, não podemos desconsiderar a legislação (Decreto nº 5.622/2005) que determina a obrigatoriedade de avaliação presencial que, talvez pelo julgamento do legislador, dê mais credibilidade ao curso. Mas, por outro lado, muitos métodos de avaliação que requerem a presença física dos estudantes não são viáveis por várias razões: custos, distância a percorrer até um polo, entre outros. Um dado relevante é que na EAD a avaliação ocorre de maneira diferenciada daquela presencial, pois, como nos diz Silva (2006, p. 23),

A avaliação da aprendizagem na sala de aula on-line requer rupturas com o modelo tradicional de avaliação historicamente cristalizado na sala de aula presencial. Se o professor não quiser subutilizar as potencialidades próprias do digital on-line, ou se não quiser repetir os mesmos equívocos da avaliação tradicional, terá de buscar novas posturas, novas estratégias de engajamento no contexto mesmo da docência e da aprendizagem e aí redimensionar suas práticas de avaliar a aprendizagem e sua própria atuação.

Pelo exposto, percebemos que a educação a distância é como um modelo de ensino no qual professor e aluno estão em separação espacial e, algumas vezes, a interação entre eles ocorre de modo indireto, mediada pelo uso de alguma tecnologia. No caso da EAD, o que se tem é uma comunicação bidirecional e dialógica em sua definição, e esses critérios são hoje considerados essenciais para a qualidade da EAD ofertada. Esse é o grande fator de alteração ao paradigma do ensino tradicional: aluno receptor e professor como o transmissor do conhecimento. Na EAD o aluno é o responsável por seu aprendizado, mas para isso será necessário que esse aluno desenvolva certas características de independência, organização e capacidade de autoestudo. Por outro lado, um corpo organizado e sistemático de tutoria de apoio será necessário para dar suporte à mediação das tecnologias utilizadas na interlocução do processo de ensino e de aprendizagem.

Por meio da EAD, são exploradas determinadas técnicas que incluem as redes de comunicação interativas, as hipermídias6 aliadas às demais tecnologias intelectuais que, aliadas à cibernética7, criam uma cibercultura. Esse estilo pedagógico de ensinar e de aprender tanto pode favorecer as aprendizagens personalizadas quanto as aprendizagens coletivas.Com a evolução da EAD, nas etapas de sua linhagem, usou-se primeiramente a correspondência; seguida da transmissão por rádio e por TV; posteriormente, as universidades abertas; as teleconferências; e, finalmente, a internet e a web. Atualmente, essas possibilidades coexistem e, de acordo com os objetivos propostos, dos custos disponíveis e do público-alvo, podemos escolher qualquer uma (ou todas) dessas possibilidades de comunicação.

No que diz respeito ao aluno virtual, há características básicas para seu sucesso. São alunos que têm acesso e usam com habilidade computador (modem e conexão de alta velocidade); participam de várias comunidades, compartilhando suas experiências e prestando sua colaboração; são indivíduos que percebem a aplicabilidade de suas aprendizagens para sua vida prática; sabem usar textos para se expressar eficazmente; têm autodisciplina para gerenciar seu tempo, distribuindoo pela necessidade de estudos pelo tempo que dispõe para a construção de seu próprio conhecimento; têm automotivação, pois entendem a importância dos conhecimentos que está adquirindo para seu progresso pessoal e profissional; sabem ou aprendem a trabalhar em equipe; desenvolvem o pensamento crítico, a capacidade de reflexão, buscando e gerenciando seu aprendizado.

No que diz respeito ao tutor em EAD, sua figura é muito importante, pois grande parte da qualidade do curso depende do desempenho das funções de tutoria que acompanha, avalia o processo educativo na EAD, além de exercer o papel de conselheiro e orientador dos alunos sob sua responsabilidade. Especialmente na questão relacionada com a avaliação, a figura do tutor é imprescindível para a qualidade e sucesso do resultado que o aluno irá alcançar. Suas funções envolvem o acompanhamento e registro das atividades dos alunos; estimula e dá assistência às suas produções; analisa o desempenho dos estudantes, estimulando-os ao aprimoramento de seu rendimento; incentiva a autoavaliação; registra frequências e postagem das atividades e das dificuldades que os alunos manifestam.

Na especificidade da EAD, não podemos esquecer que os referenciais de qualidade estabelecidos para a educação superior a distância pelo MEC em 20078 vão destacar a importância de a avaliação ser formativa e ocorrer de modo presencial e a distância, com a obrigatoriedade de haver preponderância das avaliações presenciais, com toda segurança que o processo exigirá para ter confiabilidade, sobre as outras formas de avaliação. O Decreto nº 5.622, de 19 de dezembro de 2005, dá o formato obrigatório de prevalência da avaliação presencial e ainda chama a atenção para o controle de frequência que zele pela credibilidade dos resultados o que é, cuidadosamente, respeitado pela Secretaria de Educação a Distância (Sead) da Ufes.

Na EAD, é possível fugir das simples questões de tipo múltipla escolha, optando-se, por exemplo, pela produção escrita, na qual o aluno precisará fazer uma reflexão crítica do que estudou e/ou pesquisou sobre determinado assunto, podendo, inclusive, publicar os trabalhos, abri-los na web para agregação de comentários dos colegas, de modo a tornar-se cada vez mais autônomo, fortalecendo os seus argumentos de defesa dos conceitos que publicou e, assim, conduzindo e reconduzindo suas aprendizagens. Esse procedimento pode minimizar a questão da cópia tão frequente até mesmo no ensino presencial.

O exposto converge para uma das propostas de Demo (1998) para avaliação na EAD, que é utilizar processos reconstrutivos, ao invés de mensuração por provas, exames, testes etc., que permitem ao aluno demonstrar sua aprendizagem para além de textos e monografias que considere meios específicos, e possibilitam ainda, o uso de meios mais genéricos, por exemplo, dramatizações. Ao fazer tal proposição, Demo (1998) aposta em um princípio educativo, a pesquisa, que forma o sujeito histórico, autônomo, crítico e criativo.

Além de tudo isso, é preciso considerar que a avaliação na EAD difere da avaliação dos cursos presenciais pela própria questão do espaço físico no qual não existem paredes e sim Ambientes Virtuais de Aprendizagem (AVAs). Isso pressupõe a integração entre a educação e as Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs) que ampliam as possibilidades educacionais, tornando possível mostrar ou demonstrar (caso, por exemplo, de experiências físicas ou químicas) aos alunos o que antes não se podia, com o uso de imagens, vídeos, softwares, entre outros.

Com a integração da educação e as TICs, surgiu a modalidade de educação a distância, possibilitando atividades síncronas (nas quais existem sincronia, concomitância, ocorrência simultânea ou em ritmo regular e definido) e assíncronas (em que há falta de concomitância, ou seja, há assincronismo), pois, de forma diferente do modo presencial e tradicional de acontecer, a educação na EAD não tem a presença do professor e do aluno em sala de aula juntos e ao mesmo tempo, transformando o modelo de aula tradicional presencial em um ambiente virtual e a distância.

Nesse caso, a avaliação nos remete a pensarmos quais metodologias iremos utilizar para sabermos se os alunos estão adquirindo conhecimento, pois, em um processo de decisão seletiva, um processo que envolve conteúdos e objetivos, a avaliação na EAD exige certas diferenciações e adequações a esse modelo. Partindo da formulação dos objetivos que norteiam o processo de ensino e de aprendizagem é que se define o que e como julgar, ou seja, o que e como avaliar.

Portanto, todo processo de avaliação vai começar com a definição dos objetivos e, a partir daí, haverá a aplicação sistemática de procedimentos metodológicos para determinar, com base em critérios internos e/ou externos, a relevância, a efetividade e o impacto de determinadas atividades com a finalidade de posterior tomada de decisão. Assim, em qualquer processo de avaliação, para que possamos ter uma avaliação contínua, processual e mediadora, devemos realizá-la em função dos objetivos propostos. E aí também estará implícita a visão de educação tradicional ou progressista. Os objetivos serão distintos e a avaliação vista de forma diferenciada.

As possibilidades abertas com a EAD funcionam hoje como as proposições de Freire (1968, 1982, 1987, 1992, 1996) sobre o papel do conhecimento no processo de ensinar e sobre a inserção da pessoa do aluno como “matéria-prima” – talvez a mais importante – de derivação do que ensinar aos alunos e recurso ou referencial fundamental para constituir as decisões relacionadas com o modo de ensinar. Nos textos de Freire, está presente uma concepção sobre como fazer a mediação entre conhecimento e a relação da pessoa com a sua realidade de inserção, sua vida concreta, fora dos limites temporais e geográficos das condições de ensino. Nesse método, podemos notar uma diferença nos processos de aprender e de ensinar. Hoje, também a EAD muda o foco, os limites temporais e geográficos do alcance da educação.

Como nos alerta Sgarbi (2012) é preciso estar atento para que, em cada ambiente virtual de aprendizagem possa haver mecanismos que incentivem a aprendizagem autônoma e emancipatória que tem como consequência o empoderamento dos sujeitos do processo educativo. Na aprendizagem na EAD, é preciso que haja, por parte do aluno e do professor, forte participação, compromisso, mediação e colaboração. Esses aspectos pressupõem uma relação acadêmica pautada pela qualidade, pela autoridade, desde que a autoria e a autonomia grupal e individual se construam com argumentos interativos, uma vez que é com base nos argumentos que a aprendizagem aflora e nela, consequentemente, a avaliação se estabelece.

Além das atividades avaliativas desenvolvidas no decorrer das aulas expostas nos ambientes virtuais de aprendizagem, há a obrigatoriedade da avaliação presencial e o nível de exigência dessas provas deve corresponder àquele das provas aplicadas na educação presencial. No entanto, é preciso não esquecer que, na EAD, há o acúmulo de conteúdos, tanto os de base quanto os complementares, que o professor dispõe nas plataformas virtuais, o que torna esse processo mais complexo na EAD. Pela interação síncrona e assíncrona, o aluno vai tirando suas dúvidas e se preparando para os momentos presenciais em que será avaliado por meio das provas. Quando se trata da graduação, as avaliações são feitas por disciplina, sob a forma de trabalhos semanais, de fóruns, chats, tele e videoconferências, por portfólios e provas presenciais, além de outras ferramentas avaliativas que o AVA possa dispor.

Instrumentos de avaliação em educação a distância

Os instrumentos de avaliação são procedimentos dos mais diversos utilizados na EAD. Podemos apontar como os mais usados:

Fórum de discussão

É uma ferramenta para páginas de internet destinada a promover debates por meio de mensagens publicadas, abordando uma mesma questão. Os fóruns de discussão basicamente possuem duas divisões organizacionais: a primeira faz a divisão por assunto e a segunda uma divisão em tópicos. As mensagens ficam ordenadas, decrescentemente, por data, da mesma forma que os tópicos ficam organizados pela data da última postagem.

A grande maioria dos fóruns exige que o visitante se cadastre para postar. No caso da EAD, a matrícula faculta a participação, mas todo fórum possui regras próprias e, quando um usuário desrespeita uma dessas regras, é alertado e/ou advertido. As regras são mantidas, executadas e modificadas pela equipe de moderação, mas os usuários também podem ajudar os moderadores que, no caso da EAD, são os tutores presenciais, os tutores a distância e os professores da disciplina. Todas as plataformas de fóruns possuem características (que podem ser habilitadas ou não pelos administradores) que não são comuns a todos os fóruns, mas podem facilitar o seu uso.

Um anexo pode ser mandado por um post (daí ser chamado de postagem). É um arquivo que é mandado para o servidor do fórum e pode ser baixado pelos outros usuários. Fóruns geralmente possuem limites (de tamanho e/ou de extensão) para os arquivos que podem ser enviados.

Os fóruns podem ser públicos ou privados. No caso dos públicos, como na EAD, a instituição disponibiliza espaços para discussão sobre os tópicos das disciplinas que são de interesse geral, durante um determinado período. O acesso e a participação nesse tipo de fórum são livres, após sua abertura pelos tutores responsáveis, que medeam as discussões, abrem espaço para diálogos e reflexões sobre tópicos específicos relacionados com a área de interesse, durante um tempo determinado. O usuário apenas precisa ter acesso ao sistema do fórum na web, por meio de cadastramento prévio para obtenção da senha competente.

As vantagens do fórum são: discussão mais ampla; inúmeras questões analisadas; organização de ideias; alargamento do conhecimento; acesso público e fácil; facilidade de armazenar e expressar questões e dúvidas; esclarecimento de dúvidas; troca de diferentes opiniões; fácil anexo de arquivos; possibilidade de construção de um texto rico, utilizando diferentes opiniões; divisão de assuntos por tópicos diferentes, entre outras.

As desvantagens mais evidentes são: sua estrutura que, por ser montada com as mensagens, pode levar a algumas dificuldades para a recuperação e interpretação da informação; trabalhos que utilizam, por exemplo, redes sistêmicas para organizar a informação; o fato de ser assíncrono implica que uma mensagem pode ser respondida após alguns segundos, minutos ou depois alguns dias, o que dificulta a discussão no momento ou a autoria das ideias postadas.

Produção de textos diversos

A elaboração de textos é uma maneira de organizar ideias sobre os assuntos que estão sendo estudados nas disciplinas. Esse conhecimento é construído por meio da capacidade que temos de questionar, repensar, refazer, reestruturar e aperfeiçoar nossas ideias e da percepção de que se aprende a escrever escrevendo. Por isso, antes de começar o texto, faça um esboço, mesmo sabendo que, inicialmente, ele terá a utilidade de um roteiro e que, durante a produção, poderá sofrer modificações.

Um método bastante simples de se estruturar as ideias começa com a anotação de todas elas, não se preocupando com uma sequência lógica. Tudo o que vier à mente deve ser escrito na folha, não importando a ordem ou os erros gramaticais. Essa técnica é conhecida como brainstorm, ou tempestade cerebral, e tem por objetivo registrar tudo sobre o assunto para que, mais tarde, seja possível avaliar e organizar as ideias. Esse processo costuma gerar bons resultados.

Também é necessário que haja a consciência de que pensar supõe diálogo e, quando escrevemos, é preciso sempre estar presente que a meta a ser atingida, isto é, o destinatário, são aqueles que irão ler o que escrevemos, ou seja, os nossos leitores. Assim que se conhecem as expectativas do receptor, é possível compreender as principais informações que devem estar contidas no texto. Quando se tem objetividade ou a transmissão é objetiva, pode-se chegar à organização ideal do texto. Atribuir a atenção devida ao leitor faz dimensionar o valor e dar destaque ao assunto mencionado no texto.

A elaboração prévia faz com que as informações menos importantes sejam desprezadas ou fiquem em plano secundário, e as que merecem realce sejam mais bem detalhadas. O controle das palavras é completamente possível. Para isso, é preciso lê-las em voz alta, primeiro, e ouvir como soam aos seus ouvidos, perguntando se o contexto faz sentido. Também é possível pronunciá-las em baixo tom, observando se realmente transmitem o que se deseja. Reescrevendo o que já se escreveu, aparecem várias chances de acertar, antes de mandar a mensagem para o receptor. Aqui estão subscritos os trabalhos individuais como também os trabalhos realizados em grupos.

Para escrever bem e de maneira simples, atribuindo qualidades à linguagem, alguns pontos devem ser levados em consideração. São eles: clareza – consiste na expressão exata de um pensamento. Para isso, recomenda-se o uso de períodos curtos, ausentes de adjetivação e rodeio de palavras e que não contenham duplo sentido e quebra da ordem lógica; fluência – é característica das redações que não causam prejuízo da compreensão e necessidade de releitura; concisão – utilização do mínimo de palavras para dizer o máximo possível de coisas, é a eliminação da superficialidade de termos e expressões; precisão – é o uso da palavra certa para dizer exatamente o que se quer expressar, é determinada pelo domínio do vocabulário que temos; coesão – é a ligação lógica entre as palavras, orações, períodos e parágrafo. Para que isso ocorra, o autor deve usar conectivos como: mas, porém, contudo, todavia, o qual, cujo, quanto, que, onde etc. pois isso evita a repetição excessiva das mesmas palavras; e coerência – existe quando as ideias expostas estão relacionadas de tal maneira que a conexão entre elas fica evidente, dando origem a uma linguagem lógica em que não há nada destoante, ilógico, contraditório ou desconexo. Devem-se evitar: palavras difíceis quando se tem dúvidas quanto ao significado; o uso de gírias; grafia incorreta; palavras estrangeiras. É preciso utilizar o dicionário como suporte e usar a linguagem de acordo com as normas gramaticais.

Lista de exercícios e/ou atividades

Diz respeito a exercícios e/ou atividades que são propostos aos estudantes que estão cursando determinada disciplina. Quase sempre estão ligados à fixação dos conteúdos que estão sendo estudados.

Prova presencial

São provas ou testes elaborados por professores responsáveis pelos conteúdos que estão em curso. Podem ter questões objetivas, dissertativas ou ambas em uma mesma ocasião. Os testes serão objeto de detalhamento maior quando for discutida a elaboração de itens para testes, a adequação mais apropriada para cada situação e a forma de organizá-los.

Questionários

São perguntas para serem respondidas pelos estudantes e quase sempre têm características de fixação da aprendizagem.

Elaboração de projetos

São propostas mais complexas que seguem etapas básicas, como a escolha do tema, estabelecimento de objetivos, levantamento de dados, conclusão etc. Têm um conceito plural, envolvendo concepções de educação em uma arquitetura pedagógica que tem por princípio aproximar a escola da vida real oferecendo uma alternativa à fragmentação das matérias num planejamento ordenado em que um passo anterior prepare para o seguinte. É muito usado pela metodologia construtivista.

Chat

É um termo da língua inglesa que se pode traduzir como “bate-papo” (conversa). Apesar de o conceito ser estrangeiro, é bastante utilizado no nosso idioma para fazer referência a uma ferramenta (ou fórum) que permite comunicar (por escrito) em tempo real pela internet. Por norma, o termo chat é usado para fazer alusão à troca de mensagens escritas de forma instantânea. Ou seja, na prática, quando um utilizador escreve a mensagem e a envia, o destinatário a recebe no mesmo momento. Isso acontece se o utilizador deixar a sua mensagem num fórum público, o que nos leva a fazer a diferença entre o chat privado (que se realiza entre duas ou mais pessoas, mas num âmbito virtual, cujos limites são definidos pelos próprios participantes) e o chat público (em que todos os que entram na sala/no fórum podem ler as mensagens). Quando no chat é possível ver a outra pessoa e falar com ela, costuma-se falar de videochat (ou videoconferência). Nesse caso, os utilizadores podem trocar mensagens escritas, mas também oral ou visual, o que é possível se dispuseram de um microfone e de uma câmara (webcam)

Elaboração de artigo

Consiste na descrição pormenorizada e que obedece à determinada prescrição técnica, própria da confecção de artigos, seja para sua publicação em periódicos já existentes, seja para apresentação ao professor, que pode ou não agregar vários artigos de um mesmo tema em uma compilação.

Mapas conceituais

São estruturas esquemáticas que representam conjuntos de ideias e conceitos dispostos em uma espécie de rede de proposições, de modo a apresentar mais claramente a exposição do conhecimento e organizá-lo segundo a compreensão cognitiva do seu idealizador. Portanto, são representações gráficas que indicam relações entre palavras e conceitos, desde aqueles mais abrangentes até os menos inclusivos. São utilizados para a facilitação, a ordenação e a sequenciação hierarquizada dos conteúdos a serem abordados, de modo a oferecer estímulos adequados à aprendizagem.

Na construção do mapa, são propostas que as temáticas sejam apresentadas de modo diferenciado, progressivo e integrado. Como usa a diferenciação progressiva, determinados conceitos são desdobrados em outros conceitos que estão contidos em si mesmos, parcial ou integralmente, em uma ligação entre os conceitos mais globais e os menos inclusivos, conforme pode ser observado no exemplo apresentado a seguir, no qual é possível observar como os conceitos estão distribuídos e correlacionados entre si, formando um verdadeiro mapa.

A imagem representa um mapa conceitual sobre a aprendizagem em seguite fluxo: Um conhecimento significativo requer: estruturas de conhecimento relevante bem organizadas e empenho emocional para integrar o conhecimento novo com o já existente, e deve conduzir a produções criativas. Já um aprendizado mecânico resulta de conhecimento não relevante e falta de motivação emocional para relacionar conhecimento novo com o conhecimento relevante existente. Entre o conhecimento significativo e o aprendizado mecânico há um continuum.
Figura 4 - Mapa conceitual sobre aprendizagem significativa. Fonte: Novak e Cañas (2010).

Outras formas de avaliação usadas na EAD

Webquest

Do inglês, pesquisa, jornada na Web é uma metodologia de pesquisa orientada para a utilização da internet na educação, em que quase todos os recursos da pesquisa são provenientes da própria web, compreendendo uma série de atividades didáticas de aprendizagem que se aproveitam da imensa riqueza de informações do mundo virtual para gerar novos conhecimentos.

Wiki

É uma coleção de muitas páginas interligadas e cada uma delas pode ser visitada e editada por qualquer pessoa. Isso torna este instrumento bastante prático para a reedição e futuras visitas. Você pode editar esta página clicando no separador no início da página (ou no link do fim da página, dependendo do modelo que estiver usando). Wiki é atualmente a forma mais democrática e simples de qualquer pessoa, mesmo sem conhecimentos técnicos, contribuir para os conteúdos de uma página Web. Uma característica notável das ferramentas Wiki é a facilidade de edição e a possibilidade de criação de textos de forma coletiva e livre.

Relatório

É um documento que descreve em detalhe um trabalho técnico, como uma experiência científica, educacional ou mesmo a implementação de uma tecnologia. Uma situação que pode exemplificar seu uso é no contexto da disciplina Estágio. O relatório é escrito pelo aluno no final do semestre como uma síntese do trabalho efetuado na instituição que o acolheu e na qual desenvolveu suas atividades e experiência de estágio. Um relatório não é uma obra artística, literária ou biográfica. O texto deve ser conciso, claro e direto, com o mínimo de elementos supérfluos, quer de conteúdo, quer de estilo. Também não deve ser a coleção de toda a informação recolhida ou a listagem completa dos programas desenvolvidos. Se achar oportuno incluir listagens, deve-se fazer uma seleção de excertos representativos das soluções que usou. Também não é um manual, embora possa descrever a utilização de um ou mais programas implementados. Deve-se colocar ênfase nas tecnologias e métodos que foram usados.

Monografia

É uma dissertação científica que se destina a estudar um assunto em específico. Normalmente é apresentada como um trabalho de conclusão de curso de graduação e pós-graduação. Significa literalmente “escrita única”, mas que é compreendida academicamente como um tipo de trabalho escrito que está relacionado com a unicidade de um problema, um único contexto sobre determinada área do conhecimento. Seu principal objetivo é reunir informações, análises e interpretações científicas que agreguem valor relevante e original à ciência, dentro de um determinado ramo, assunto, abordagem ou problemática.

Portfólio

É uma coleção de trabalhos já realizados. É um termo originário do inglês e tem uma importância muito grande para profissionais pois permite mostrar dados além de seu currículo. O portfólio agrega valor para o indivíduo e normalmente é iniciado durante a vida acadêmica. A palavra portfólio também é usada para descrever um papel dobrado ou uma pasta que serve para armazenar documentos ou trabalhos. Muitas pessoas têm dúvidas em relação à grafia da palavra. A forma correta é portfólio e não portifólio. O portfólio acadêmico é uma ferramenta pedagógica que consiste em uma listagem de trabalhos realizados por um estudante ou até trabalhos desenvolvidos no contexto profissional. Essa lista costuma estar organizada de forma cronológica e serve para demonstrar as competências adquiridas por meio de tarefas realizadas. Neste caso, o portfólio também pode facilitar o pensamento crítico em relação ao processo acadêmico. Existe também o portfólio escolar, que é um sistema de registros muito desenvolvido na área da educação, com o objetivo de acompanhar o desenvolvimento individual de todos os alunos.

Blogs

É uma palavra que resulta da simplificação do termo weblog, que vem da justaposição das palavras da língua inglesa web e log. Web aparece aqui com o significado de rede (da internet) enquanto log é utilizado para designar o registro de atividade ou o desempenho regular de algo. Numa tradução livre, podemos definir blog como um diário on-line. São páginas da internet nas quais, regularmente, são publicados diversos conteúdos, como textos, imagens, músicas ou vídeos, podendo tanto ser dedicados a um assunto específico como ser de âmbito bastante geral. Podem ser mantidos por uma ou várias pessoas e têm normalmente espaço para comentários dos seus leitores. Blogueiro é o nome dado a quem publica num blog e blogosfera é o conjunto de blogs. O sucesso deste tipo de páginas da internet resultou muito da existência de modelos de páginas predefinidos e da facilidade de inserção de conteúdos fornecidos por alguns sistemas de publicação.

Estudo de caso

É um instrumento pedagógico que apresenta um problema que precisa de uma solução. Como o problema não tem uma solução predefinida, vai exigir o empenho do aluno para identificá-lo, analisar evidências, desenvolver argumentos lógicos, avaliar e propor soluções. Reproduz questionamentos, incertezas e dispara a necessidade de uma tomada de decisão. Pelo raciocínio crítico, argumentativo, pela via individual ou do diálogo coletivo, as informações expostas desafiam a negociação e a reflexão para a busca de possíveis soluções. É um instrumento pedagógico muito valioso, especialmente em algumas áreas.

Autoavaliação e avaliação por pares

É a reflexão sobre o próprio desempenho. Muito usada para avaliações de cunho atitudinais, é um meio eficiente para o aluno aprender a identificar e corrigir seus erros. Nesse instrumento, o professor tem papel essencial e a abertura para o diálogo na avaliação é uma medida interessante tanto para o estudante tomar consciência de seu percurso de aprendizagem e se responsabilizar pelo empenho em avançar – é a chamada autorregulação – como para ajudar o professor a planejar suas intervenções em sala. Após o aluno refletir sobre o que e como aprendeu, o professor pode realizar um conjunto de ações para modificar o que não está adequado, os acertos e erros do percurso. O objetivo é levar o estudante a confrontar seu desempenho com o que se esperava e agir para reduzir ou eliminar essa diferença. Da mesma forma, os alunos podem avaliar o desempenho dos colegas, de modo a apontar pontos fortes e também fragilidades que podem ser aprimorados.

Pelo exposto acima, percebemos que é interessante que a avaliação utilize recursos diversos para que, dessa forma, a visão do processo de ensino-aprendizagem seja mais completa. Além disso, de modo geral, como o público da educação a distância é adulto, torna-se necessário que a avaliação dê ao estudante um feedback a respeito de seus pontos fortes e fracos, contribuindo para o redirecionamento do seu processo de aprendizagem.

Testagem

É uma técnica de avaliação que utiliza os testes/provas/exames e sinônimos. Como um instrumento construído para fazer uma verificação pontual, indicará o quantum de determinado conteúdo foi absorvido pelos alunos. Consiste em um conjunto de tarefas que são postas aos discentes seguindo o mesmo procedimento de aplicação, correção e critério de interpretação. Por esse motivo, é o instrumento que apresenta maior precisão nas informações obtidas, visto que, se bem construído, diminui a interferência dos examinadores.

Os testes podem ser padronizados - geralmente os testes de larga escala, como o Exame do Ensino Médio (Enem); Prova Brasil; Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade); etc, são elaborados por especialistas, validados estatisticamente, antes de sua aplicação, ou podem ser construídos pelo professor que ministra o conteúdo com a finalidade de confirmar se seus objetivos foram alcançados ou não e, nesse caso, sem experimentação prévia que lhe dê a validação estatística.

Em ambos os tipos de testes, será preciso a construção de questões e dos itens9 que constituirão o corpo do instrumento. Essa é uma etapa delicada de ser construída e, dependendo do formato do teste, implicará maior ou menor facilidade em sua construção e/ou correção. Por exemplo, podemos citar que os itens objetivos são de mais fácil correção, mas de mais difícil construção, em comparação com os itens dissertativos que são de difícil correção, embora sejam de mais fácil elaboração.

O item constitui a unidade básica do instrumento ou teste e, em testes de larga escala, cada item ou pergunta é uma questão que medirá, no caso de avaliação da aprendizagem, os conhecimentos, as competências e habilidades que o aluno desenvolveu a partir de determinado conteúdo. Assim como os testes, os itens também são de resposta livre ou itens objetivos.

Vamos detalhar mais cada um desses tipos de testes e de itens, mas, antes de descrevermos os tipos de itens de testes dissertativos ou objetivos, parece-nos interessante apresentar um quadro comparativo entre os dois tipos de provas que contêm esses itens, adaptado de Sant’Anna (1995, p. 75):

Quadro 2 – Comparativo entre provas objetivas e dissertativas
REQUISITO DE COMPARAÇÃO PROVAS OBJETIVAS (julgamento impessoal) PROVAS DE DISSERTAÇÃO (resposta livre)
Preparo das questões Difícil e demorado Difícil (porém menos demorado), sendo vantajosas com poucos examinadores
Julgamento das respostas Simples, objetivo e preciso Difícil, penoso, principalmente subjetivo e menos preciso
Fatores que interferem nos resultados Habilidade de leitura e acerto por acaso Capacidade de redação; habilidade de contornar problema central
Habilidade mais solicitada aos examinadores Domínio de conhecimentos, apoiado na habilidade de ler, interpretar e criticar Domínio do conhecimento apoiado na habilidade de ler e de redigir
Resultados verificados Domínio de conhecimentos nos níveis de compreensão, análise e aplicação pouco adequados para síntese criação e julgamento de valor Pouco adequados para medir domínio de conhecimento; bons para compreensão, aplicação e análise; melhores para habilidades de síntese
Amplitude alcançada pela prova Com muitas questões de respostas breves podem abranger dilatado campo e dar boa amostragem da prova Com poucas questões de resposta longa cobrem terreno limitado, sendo impraticável a amostragem
Elaboração das questões e atribuições de notas Subjetivismo presente na sua construção; fundamental a competência de quem prepara a prova Subjetivismo presente na construção e no julgamento; fundamental a competência de quem julga as respostas
Oportunidades oferecidas ao examinador e ao aluno Liberdade ao examinador de exigir cada ponto; maior controle por parte do professor e mais limitação ao aluno Liberdade ao aluno de mostrar a sua individualidade; mas ocasião para o examinador se deixar levar por opiniões pessoais
Efeitos prováveis na aprendizagem Estímulo ao aluno para lembrar, interpretar e analisar ideias Encorajam o aluno a organizar, interpretar e exprimir suas ideias

Fonte: Adaptado pela autora de SANT’ANNA, 1995, p.75.

Prova escrita dissertativa, discursiva ou resposta livre

São aquelas em que os alunos escrevem a resposta das questões solicitada pelo professor, utilizando suas próprias palavras e organização do texto. Dependendo da operação cognitiva que mobilizam, teremos tipos diferentes de itens discursivos conforme quadro a seguir.

Quadro 3 – Tipos de questões dissertativas

TIPOS DE QUESTÕES DISSERTATIVAS
Relacionar ou enumerar É uma exposição que exige apenas recordação. É uma forma simples de resposta livre
Organizar Também exige a lembrança de fatos, mas de acordo com determinado critério (cronológico, importância crescente, causa e efeito etc.). É mais complexo que o anterior. Neste caso, os elementos devem ser dispostos de forma a assumir um estrutura
Selecionar Supõe uma escolha fundamentada em normas de julgamento ou apreciação. A resposta exige avaliação, mas de natureza simples, de acordo com um critério preestabelecido
Descrever Solicita a exposição das características de um objeto, fato, processo ou fenômeno
Analisar É mais que uma simples descrição, porque supõe uma análise em que o aluno expõe ideias, questiona, apresenta argumentos a favor e contra e estabelece o relacionamento entre fatos e ideias. A resposta requer estruturação cuidadosa e propicia diferentes abordagens do problema
Definir Consiste em enunciar os atributos essenciais e específicos de um objeto, fato, processo ou fenômeno, indicando as categorias a que estaria associado. O aluno não deve repetir as definições contidas nos livros-texto, mas usar as próprias palavras
Exemplificar Consiste em confirmar uma regra ou demonstrar uma verdade. A questão exige aplicação do conhecimento aprendido. O aluno deve não apenas apresentar definições e enunciar leis e princípios, mas aplicar o conhecimento, dando uma contribuição pessoal
Explicar Consiste em elucidar a relação entre fatos ou ideias. A ênfase da questão deve recair na relação de causa e efeito
Comparar Consiste em uma análise simultânea de objetos, fatos, processos ou fenômenos para determinar semelhanças e diferenças e indicar relações. A resposta exige planificação e organização de ideias. O item pode ser enunciado de várias formas, sem necessariamente usar o termo comparar, solicitando a apresentação de vantagens ou desvantagens, semelhanças ou diferenças
Sintetizar Consiste em fazer um resumo, isto é, expor de forma concisa e abreviada uma ideia ou assunto, apresentando seus aspectos essenciais.
Esquematizar O esquema ou esboço é uma espécie de síntese, mas exige uma organização d assunto em tópicos e subtópicos, dando ênfase às funções e às relações entre os elementos
Interpretar Consiste em analisar o significado de palavras, textos e ideias ou compreender as intenções de um autor. A influência da memória é praticamente nula, pois a resposta exige basicamente capacidade de compreender e realizar inferências
Criticar Consiste em julgar e supõe análise crítica. O aluno deve avaliar ideias, textos e livros tendo por base padrões ou critérios para proceder a uma análise crítica

Fonte: Viana (1973).

As questões dissertativas, discursivas ou de resposta livre apresentam vantagens já indicadas no quadro comparativo. Entretanto, vale, ainda, salientar o tempo exigido por tamanha carga material para correção, algo limitador que deve ser analisado criteriosamente. Há alguns pontos para sua elaboração que podemos resumir em:

  • organizar a prova com antecedência e formular questões que estimulem a reflexão e os esquemas operatórios do aluno;
  • ter coerência com os objetivos e com os aspectos mais importantes do conteúdo;
  • redigir os itens de resposta de forma clara e exata (compare, explique, descreva, exemplifique etc.);
  • adequar os itens ao tempo disponível.

É possível orientar os alunos desde o ensino fundamental a fazer uma dissertação, organizando e estruturando adequadamente o conteúdo, formulando uma série de perguntas em sequência que, à medida que são respondidas, formam uma pequena estrutura dissertativa.

Também é bom atentarmos para uma chave de correção que deve ser elaborada junto com o teste, contendo o que pode ser considerado mais importante para abordar em cada item.

Prova escrita objetiva

São aquelas em que os alunos assinalam a resposta correta, completam a questão, correlacionam uma coluna com outra etc., enfim, escolhem, dentre as opções colocadas pelo professor, aquela resposta que consideram correta para responder ao item. Haydt (1997) elenca as características de uma boa prova objetiva: ter conhecimento amplo do conteúdo a ser avaliado; estabelecer objetivos claros e bem definidos; possuir bom conhecimento das técnicas de construção de testes; ter capacidade de expressar as ideias por escrito de modo claro, preciso e conciso, com linguagem acessível ao nível dos alunos. As provas objetivas são assim conhecidas por usarem itens objetivos.

A organização de um teste objetivo exige alguns cuidados. Haydt (1997) nos apresenta sugestões para organizar uma prova objetiva e redigir questões adequadas.

Essas sugestões são válidas para todos os tipos de questão objetiva. Vejamos:

  • elaborar as questões a partir de ideias relevantes e problemas importantes e que avaliem os conteúdos e objetivos realmente significativos;
  • fazer adaptação da dificuldade dos itens ao grau que se equipare à formação escolar dos alunos e ao nível da classe;
  • elaborar as questões, de preferência, com nível de dificuldade mediano, isto é, procurar não redigir algo extremamente fácil, que todos respondem, ou muito difícil, que ninguém consegue acertar;
  • usar uma linguagem clara, direta e sucinta na redação das questões e instruções, evitando ambiguidade. Se a questão ficar ambígua, o professor deverá considerar certas todas as respostas possíveis. Nesse caso vale um exemplo simples de um teste aplicado a alunos do ensino fundamental.
A figura ilustra um professor, à esquerda e com o dedo levemente apontado para cima, dizendo: 'Espaço é o lugar que há de intervalo de um objeto, onde se possa brincar, etc. Também um lugar que possa ser ocupado pelo ar'. Um estudante, com expressão de dúvida, está pensando: 'Espaço é o meio limitado que contém todos os corpos celestes, ou melhor, a criação toda.'
Figura 5 - Item de teste sem clareza.

Neste caso, a clareza do item pediria que o professor explicitasse de que espaço estava falando (sideral).

  • incluir no teste as instruções específicas para cada tipo de item (múltipla escolha, certo-errado etc.), indicando a forma de registrar as respostas;
  • organizar as questões em ordem de dificuldade crescente, apresentando primeiro as mais simples e depois as mais complexas;
  • agrupar as questões de acordo com a forma, colocando juntos todos os itens do mesmo tipo (lacuna, múltipla escolha, certo-errado etc.);
  • apresentar o teste impresso, para que o aluno não tenha que despender muito tempo copiando as questões do quadro;
  • não dividir uma questão entre o fim de uma página e o início da outra;
  • só incluir ilustrações quando puderem ser nitidamente reconhecidas;
  • preparar chave de correção cuidadosamente, contendo a resposta certa de todos os itens do teste, para facilitar a apuração dos resultados por qualquer pessoa.

A escolha do tipo de item a ser usado no teste depende, em grande parte, dos objetivos a serem avaliados e da natureza do conteúdo abordado. Os tipos de itens objetivos mais comuns são: resposta curta; lacuna; certo-errado; acasalamento, correlação ou combinação; múltipla escolha.

a) Questão de resposta curta:
É uma questão que exige resposta breve e bem definida. O aluno deve escrever apenas uma palavra, uma frase curta ou um número. O problema é apresentado em uma pergunta direta ou sob a forma de uma declaração incompleta.
Sugestões para a elaboração de questões de resposta curta:

  • redigir o item com linguagem clara, precisa e sintética, de forma que haja uma única resposta certa;
  • elaborar a questão baseando-se em ideias relevantes e significativas, de forma que a resposta exija compreensão e aplicação de conhecimento, e não apenas simples memorização;
  • elaborar, de preferência, uma pergunta direta em vez de uma afirmação incompleta, pois esta exige cuidado ao ser redigida, para que haja somente uma resposta correta.

b) Questão de lacuna:
É uma questão constituída por uma ou mais frases, com algumas partes omitidas, correspondendo a espaços em branco, que devem ser preenchidos com uma palavra ou um número. A questão de lacuna é muito semelhante à de resposta curta com enunciado incompleto. A diferença é que, enquanto na questão de resposta curta só aparece um espaço no final da frase, a de lacuna pode apresentar mais de um espaço em branco em qualquer lugar da afirmação.
Sugestões para a elaboração de itens de lacuna:

  • formular a questão de forma que cada espaço em branco só admita uma resposta correta;
  • usar poucos espaços em branco, no máximo três, para que a frase não se torne longa demais, de difícil compreensão e sujeita a mais de uma interpretação;
  • não colocar lacunas no início da frase, para não dificultar a compreensão;
  • omitir dados significativos e não apenas detalhes irrelevantes, mas não retirar palavras fundamentais à compreensão da frase;
  • não reproduzir textualmente declarações e enunciados de manuais ou outros livros, porque pode incentivar a simples memorização; além disso, uma afirmação fora do contexto original pode perder o sentido primitivo e tornar-se ambígua. É conveniente reformular as frases, recriando o enunciado.

c) Questão de certo-errado ou de resposta alternada:
É uma questão formada por uma frase declarativa. O aluno responde assinalando uma das palavras destes pares: certo ou errado; correto ou incorreto; sim ou não; verdadeiro ou falso.
Sugestões para a formulação de uma questão de verdadeiro-falso:

  • elaborar cada item de forma que inclua apenas uma ideia e apresente uma proposição que seja inteiramente certa ou inteiramente errada. Evite declarações parcialmente certas, para que a questão não seja ambígua;
  • evitar frases longas e rebuscadas, contendo muitos detalhes. É preferível dividir os enunciados longos em dois ou mais itens separados;
  • formular a questão de modo que a proposição se relacione com aspectos significativos e generalizações importantes;
  • evitar frases de construção negativa, especialmente dupla negação;
  • apresentar os enunciados verdadeiros e falsos misturados, sem seguir uma determinada sequência, para que sua distribuição no teste não seja regular.

d) Questão de acasalamento, correlação ou combinação:
É uma questão constituída por duas colunas. Cada item da primeira coluna deve ser combinado com uma palavra, frase ou número da outra coluna. Victor Noll (1965) afirma que o emprego desse tipo de questão é recomendado em situações em que se examinam ou julgam relações entre ideias, fatos ou princípios mais ou menos semelhantes. Uma das formas mais usadas da questão de acasalamento é a chamada questão de classificação.
Sugestões para a construção de urna questão de acasalamento:

  • usar conteúdo do mesmo tipo, em cada questão. Para manter um alto grau de homogeneidade, é preciso que o conteúdo de cada conjunto de itens pertença à mesma categoria;
  • elaborar instruções completas, explicando qual será a forma de combinação e informando se cada letra ou número da resposta poderá ser usado apenas uma vez ou mais de uma vez;
  • fazer com que uma das colunas contenha sempre um número maior de itens, para evitar que a resposta seja encontrada por simples eliminação ou exclusão e para reduzir o acerto casual;
  • apresentar, sempre que possível, os itens das duas colunas numa ordem lógica, organizando-os em sequência numérica ou alfabética, para que o aluno possa encontrar mais facilmente a resposta certa;
  • colocar os enunciados mais longos na coluna da esquerda, e os mais breves na da direita, para facilitar a leitura parte do aluno.

e) Questão de múltipla escolha:
É uma questão formada por uma parte introdutória (suporte) contendo o problema que pode aparecer sob a forma de afirmação incompleta ou de pergunta direta, seguida de várias alternativas que se apresentam como possíveis soluções; uma delas é a resposta correta, que deve ser escolhida e assinalada.

A questão de múltipla escolha pode verificar conhecimento e também a capacidade de compreensão, interpretação e aplicação. Além disso, é fácil de corrigir, mas sua construção requer tempo e certa habilidade criativa. Para verificar a capacidade de compreensão e interpretação, as questões de múltipla escolha podem empregar textos ou utilizar mapas, gráficos e tabelas.
Sugestões para a elaboração de questões de múltipla escolha:

  • apresentar a ideia ou problema contido no suporte do item de forma definida e breve, usando uma pergunta direta ou uma declaração incompleta;
  • incluir sempre uma resposta correta ou que seja considerada a melhor para cada item;
  • redigir as diversas alternativas de modo que todas pareçam plausíveis à primeira vista, embora apenas uma delas seja correta;
  • construir todos os itens de múltipla escolha de um teste com o mesmo número de alternativas. Colocar pelo menos quatro alternativas. O número geralmente recomendado é cinco, para reduzir a influência do fator adivinhação ou acaso;
  • tornar todas as alternativas gramaticalmente ajustadas ao suporte, para não dar indicações da resposta correta;
  • colocar a resposta correta em cada uma das posições possíveis (letras), com a mesma frequência;
  • formular todas as alternativas com aproximadamente o mesmo comprimento;
  • elaborar alternativas breves, eliminando tudo aquilo que não for essencial;
  • colocar no suporte da questão todas as palavras que ficariam repetidas nas alternativas;
  • evitar, sempre que possível, suportes negativos, em que o aluno deve selecionar a resposta incorreta;
  • evitar a redação de alternativas muito semelhantes e de discriminação sutil, para que a questão de múltipla escolha não se transforme num mero jogo de adivinhação;
  • colocar, de preferência, as alternativas que expressam respostas verbais em ordem alfabética e as que contêm números em ordem numérica.

Item de questão de múltipla escolha

A elaboração desses itens é de maior complexidade, embora de mais simples correção. Há alguns autores que descrevem a elaboração de itens objetivos, orientando-nos de modo prescritivo, quanto aos cuidados que cada tipo exige. Entre os mais atuais, estão: Haydt (1997, 2008), Sant’anna (1995), Piletti (1989) e mais remotamente, porém merecendo destaque por serem referência no assunto, estão: Noll (1965), Lindeman ( 1972), Grunlund (1979), dentre outros.

Acreditamos, no entanto, que Haydt (1997, 2008) consegue, de forma simples e clara, dar-nos as coordenadas essenciais para elaborarmos de maneira mais técnica nossos itens objetivos. Por esse motivo, haverá muitas referências a essa autora neste trabalho. O item objetivo possui alguns elementos que o constitui e que, basicamente, seguem a estrutura abaixo descrita.

Elementos constitutivos de um item objetivo

  • texto-base: é o texto que compõe a situação ou o problema apresentados no item. Podem ser usados textos verbais, gráficos, tabelas, imagens, charges etc.;
  • enunciado: é a instrução dada para a execução do item pelo aluno. Precisa ser usada linguagem clara e objetiva, sem possibilidade de dupla interpretação em todos os formatos em que esse tipo de item for adotado;
  • alternativas: são as possibilidades de respostas para a situação que foi apresentada como problema ou enunciado. Essas alternativas se dividem em gabarito – a única resposta correta ao enunciado; e distratores – alternativas incorretas à situação-problema apresentada.

O ponto de partida de elaboração de um item é uma Matriz de Referência, que é composta pelos descritores de desempenho em alguma área de conhecimento. Esse descritor deve traduzir as habilidades ou as competências que se espera que o aprendiz demonstre na associação. No caso da avaliação da aprendizagem, traduzir as habilidades entre os conteúdos curriculares e as operações mentais que o aluno terá que utilizar para responder ao item. Na figura 6, a seguir, ficam demonstradas de modo conciso, as etapas de elaboração de itens.

Figura representa um fluxo sobre a Matriz de Referência. Da matriz de referência, se parte para um descritor de conteúdos e habilidade cognitivas, que parte para um item avaliando um único descritor.
Figura 6 - Etapa de elaboração de itens. Fonte: Adaptado pela autora.

O ciclo completo do fluxo de elaboração de itens pode ser exemplificado como no gráfico apresentado a seguir. É lógico que esse fluxo longo é usado em testes de larga escala, aqueles que são elaborados para testagem de uma população extensa, como nos casos já citados de Enem, Enade, Prova Brasil, entre outros. Em testes usuais, do nosso dia a dia, podemos nos deter no ciclo apresentado acima que, por ser mais curto, é mais facilmente assimilável por nós, professores. Mesmo assim, vale salientar que são itens de mais difícil elaboração, como já destacado. É importante destacar também que, ao elaboramos os itens objetivos com frequência, vamos nos aperfeiçoando no passo a passo da elaboração, e a tendência é que cada vez mais nossos itens fiquem mais precisos. Entretanto, a revisão sempre será necessária, visto que as “ciladas” desse tipo de trabalho são muitas e, mesmos sendo muito experientes na área, podemos cometer equívocos que tornam o item defeituoso. A seguir, apresentamos o fluxo completo de elaboração de itens objetivos.

A figura representa um fluxo das atividades de elaboração de itens. A definição da matriz de referência é elaborada por especialistas e professores para elaborá-la. Os itens devem ser elaborados por professores indicados para tal. A validação do conteúdo deve ser elaborada por especialistas nas áreas de conhecimento do teste, que verificam se o item avalia uma única habilidade. A revisão técnica e pedagógica é elaborada por especialistas, que fazem a correção dos problemas pedagógicos e técnicos. Se necessário, os itens podem ser reformulados. A revisão da língua portuguesa é elaborada por especialistas em língua portuguesa, fazendo a correção de possíveis desvios de norma culta.A realização da pré-testagem é elaborada na composição de uma amostra com características semelhantes aos alunos do sistema a ser avaliado. O tratamento estatístico da pré-testagem elabora uma análise estatística e pedagógica do pré-teste realizado. A seleção de itens para compor o teste a elaborada através dos de melhor qualidade técnica e pedagógica. A montagem dos cadernos de teste são elaboradas em uma organização dos itens, por bloco, para a composição de diversos cadernos de teste. Passa-se então, para a impressão gráfica, em que se elabora os testes já prontos para aplicação.
Figura 7 - Fluxo completo de elaboração de item. Fonte: Adaptado pela autora

Detalhamento da estrutura do item objetivo: enunciado, suporte, comando, alternativas de respostas

A figura demonstra detalhamento da estrutura do item objetivo. Há um comando: 'Leia a tirinha e responda:', assim como um suporte, representado por uma tira em quadrinhos. Há outro comando, que diz: 'A expressão do pipoqueiro após a resposta da magali indica:'. Esses três elementos compõem o enunciado. Há, então, os distratores ou alternativas de resposta: 'a.Irritação; b.Alegria; c.Indignação; d.Tristeza', como também o gabarito ou resposta correta: 'e.Espanto'

Enunciado: é a base da questão, o estímulo que o aluno precisa para mobilizar sua cognição para solucionar o que se pedirá para a solução do item. É uma situação- problema expressa como afirmativa ou pergunta e deve deixar explícita a base da resposta – o que se exigirá do aprendiz – e como ele deverá proceder – o comando de resposta. Esse estímulo pode conter um texto, imagem ou outros recursos, que recebem o nome de suporte, ou pode apenas apresentar uma situação-problema, um questionamento ou questão contextualizada. O importante é que o enunciado, com ou sem suporte, apresente todos os dados e informações necessários à resolução do item e, ainda, ao enunciar o problema, deve-se apresentar todas as informações de que o aluno precisa para se situar sobre o que o item aborda e que é objeto de análise.

O enunciado deve conter informações suficientes para que o aprendiz compreenda claramente qual é o problema proposto e de que forma ele deverá resolvê-lo. Devese ter cuidado com enunciados inespecíficos e comandos pouco definidos para não se incorrer no erro de exigir do aluno que “adivinhe”. O uso de enunciados como:

“Analise as afirmativas corretas” ou “É correto afirmar” é pouco claro e não indica o que se deve fazer, ou seja, deve-se analisar se as afirmativas estão corretas em relação a quê?

Suporte: são referências apresentadas no enunciado da questão, ou seja, o aluno precisa consultar o suporte, fazer uma interpretação e/ou análise dos elementos que são indicados para responder à questão. Podem ser recursos visuais, gráficos e textuais, como: figuras, gravuras, desenhos, mapas, tabelas, gráficos, fotos, imagens, textos, entre outros. Não se devem usar suportes em caráter decorativo, mas como material para consulta e análise.

Ao se escolher um suporte, devem-se usar critérios, tais como: observar adequação à idade, ao assunto e à habilidade que se quer testar; ser compreensível e acessível ao desenvolvimento do aluno; ter sentido no contexto sem ser muito genérico ou muito restritivo; usar fontes variadas; ser representativo de diferentes grupos sociais; ser legível; apresentar a fonte de onde foi retirado; ser compatível com o nível de escolaridade e o tempo disponível para a resposta; expressar a comunicação em língua culta e em outros dialetos; evitar abordagens que usam pregação religiosa ou ideológica; evitar o uso de temas que podem reproduzir discriminações e preconceitos.

Comando de resposta: indica a tarefa e/ou o procedimento que deverá ser realizado para se responder à questão. O comando pode ser feito, por exemplo, em forma de sentenças interrogativas ou frases incompletas. Está ligado à habilidade que se quer testar, estar diretamente relacionado a um único descritor da Matriz de Referência e precisa indicar, de modo claro e objetivo, a tarefa a ser executada. Como no suporte, o comando de resposta também exige cuidados, tais como: a escolha do vocabulário que deve ser adequado ao nível de desenvolvimento e de escolaridade do aluno; o uso de conceitos, termos/terminologias universais que evitarão comportamentos diferenciados do item, geralmente originados de posturas ideológicas, religiosas, de especificidades regionais; o cuidado de afastar qualquer fator que possa dificultar a compreensão do item pelo estudante.

Importante atentar para NÃO utilizar ou evitar ao máximo utilizar:

  • questões que induzem ao erro ou ao acerto com as famosas “pegadinhas”;
  • termos como: incorreto, falso, exceto, não ou errado;
  • termos como: sempre, nunca, todo, totalmente ou qualquer outra expressão que seja determinante na resposta;
  • caso não seja possível evitá-las, usar com destaque (maiúsculas em negrito).

Alternativas de resposta: construídas visando à produção de informações que sejam relevantes sobre a habilidade que se quer avaliar. A resposta correta ou gabarito deverá validar a capacidade do aluno em relação àquela habilidade cognitiva específica que se deseja avaliar. As outras alternativas de resposta, chamadas distratores, são possíveis caminhos apresentados ao avaliando e devem ser coerentes com a questão proposta em tamanho da resposta; serem plausíveis de serem escolhidas por quem não adquiriu a habilidade solicitada; não serem mutuamente excludentes de modo a não serem descartadas pela mera eliminação, levando à escolha da resposta correta por essa via e não pela desejável garantia de aquisição da habilidade pretendida. Portanto, a resposta correta deve ser, exclusivamente, uma.

Na construção das alternativas para a resposta, deve-se assegurar que a questão de múltipla escolha tenha uma alternativa correta como resposta. Além disso, embora já destacado, respeite alguns cuidados, entre outros, como:

  • eliminar possíveis indicadores gramaticais da resposta correta, como artigos, palavras de gênero, plurais, evitando o acerto casual ou por exclusão;
  • focalizar o certo ou o errado em relação ao elemento essencial da questão de que trata a alternativa de resposta e não falsear com detalhes e dados secundários e/ou supérfluos, nem elementos que dependam apenas de atenção;
  • fazer com que cada alternativa de resposta seja interessante e se refira a um tópico importante do conteúdo – não tratar de dois tópicos para não gerar dúvidas do tipo: um está certo e o outro errado ou alternativa que seja metade certa e metade errada, pois isso confunde o aluno;
  • redigir as alternativas de forma resumida, mas clara, sem repetições de termos – todo termo ou expressão repetido em todas as alternativas deve ser incluído no enunciado do problema;
  • verificar se há sintonia gramatical e de sentido entre o enunciado do problema e as alternativas;
  • tornar as alternativas de respostas homogêneas e equiparadas em relação ao conteúdo e à extensão do texto;
  • evitar que a alternativa correta tenha maior apuro de linguagem ou use mais termos técnicos;
  • organizar as alternativas por um critério lógico, como ordem alfabética, tamanho, sequência etc.;
  • variar a posição da alternativa correta;
  • verificar se as alternativas de respostas são independentes entre si e mutuamente exclusivas;
  • evitar itens de múltipla escolha baseados em opiniões;
  • evitar formulação de alternativas absurdas;
  • usar os itens de múltipla escolha para medir o raciocínio e não para a mera memorização;
  • evitar “pegadinhas”.

Enfim, nunca é demais lembrar que instrumento de avaliação é um recurso muito sério e precisa ser construído com critério e cuidado. A técnica de elaboração de provas só ajuda ao profissional que sabe da responsabilidade que deve ter com o aprendizado de seu aluno e tem respeito por isso. Esse professor procurará, diuturnamente, aprimorar seus instrumentos de medida e de avaliação consciente de que mais importante do que saber o que nossos alunos aprenderam é saber o que eles ainda não aprenderam para, retornando ao ensino, reensinar.

Hora de trabalhar:



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7ª ATIVIDADE

1. Elabore dois itens de cada um desses apresentados e, posteriormente, troque-os com um colega para a análise e sugestões de correção.

2. Analise, criticamente, os itens que seu colega lhe apresentou, faça as indicações que julgue pertinentes para o aprimoramento do item.



5
Ver mais detalhes em: Indicadores de qualidade para cursos de graduação a distância. Ministério da Educação, Secretaria de Educação a Distância, Brasília, DF, 2000. Disponível em: http://www.cipead.ufpr.br/wp-content/uploads/2014/08/Indicadores-de-qualidade-para-cursos-degradua%C3%A7%C3%A3o-a-dist%C3%A2ncia.pdf. Acesso em: 2 set. 2015. [Ver no texto]
6
“Sistema de registro e exibição de informações informatizadas por meio de computador, que permite acesso a determinados documentos (com textos, imagens estáticas ou em movimento, sons, softwares etc.) a partir de links que acionam outros documentos e assim sucessivamente. Também pode ser suporte de informação com tais características de interatividade” (HOUAISS, 2001, p. 1535). [Ver no texto]
7
“Ciência que tem por objeto o estudo comparativo dos sistemas e mecanismos de controle automático, regulação e comunicação nos seres vivos e nas máquinas” (HOUAISS, 2001, p. 711).[Ver no texto]
8
Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seed/arquivos/pdf/legislacao/refead1.pdf. Acesso em: 2 jun. 2015. [Ver no texto]
9
A distinção entre item e questão se dá no campo das medidas educacionais. Neste trabalho, os dois termos serão utilizados com o mesmo sentido. [Ver no texto]
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