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Capítulo 5 Os grandes paradigmas:
Marxismo e Escola dos Annales

Neste capítulo iremos discutir o surgimento de algumas das principais referências paradigmáticas da historiografia ocidental que emergiram na Europa. Reunidas muitas vezes em torno de conhecidas escolas históricas, iremos nos debruçar sobre as contribuições do que julgamos ser algumas das mais relevantes tradições de pensamento para a historiografia ocidental ao longo dos dois últimos séculos. Antes de tudo, cabe esclarecer alguns conceitos em torno do estudo da historiografia para que possamos melhor compreender o lugar de produção e os diferentes discursos e propostas analíticas relacionadas à disciplina história.

Primeiramente, em termos da teoria do conhecimento, entende-se o conceito de “paradigma” como definidor de um exemplo típico ou de um modelo para algo, como uma representação de um padrão a ser seguido. É um pressuposto filosófico, matriz, ou seja, uma teoria, um conhecimento que origina o estudo de um campo científico. Já o conceito de “escola histórica” diz respeito a certos grupos intelectuais organizados em torno de determinadas instituições, com propostas, métodos, visões de mundo e interesses políticos comuns. Por seu caráter programático, e muitas vezes até combativo, intérpretes associam o corpus esquemático das escolas históricas a verdadeiras “máquinas de guerra” acadêmicas (BENTIVOGLIO; LOPES, 2013, p. 226).

Em capítulos anteriores pudemos observar como a expansão dos debates acerca dos significados filosóficos e acadêmicos da história contribuiu para influenciar o surgimento de distintas concepções sobre os alicerces científicos pretendidos para a história enquanto disciplina. Entre o fim do século 19 e início do 20 não foi diferente, e muitas seriam as vozes que se levantariam contra a proposta historicista para a matriz disciplinar histórica. No interior da própria disciplina ou por meio da filosofia e dos estudos teológicos, intelectuais questionaram as pretensões cientificistas do método historicista de crítica documental. A antropologia, a psicanálise e as novas disciplinas sociológicas que emergiam nas últimas décadas do século 19 serviram para acentuar as falhas na pretensão objetiva da historiografia acadêmica, apontando para a subjetividade e a intangibilidade da essência humana.

Tais questionamentos serviriam para ampliar o leque de temas, orientações e abordagens concatenados à ciência histórica, de modo que a maneira de olhar os feitos humanos no passado sofreria bruscas mudanças de perspectiva. A primeira dessas guinadas historiográficas talvez tenha se dado a partir das contribuições do filósofo alemão Karl Marx (1818-1883) e do seu materialismo histórico dialético. Os subsídios da historiografia marxista e o seu legado ao longo do século 20 serão, portanto, os primeiros tópicos analisados neste capítulo.

O marxismo e a história

Talvez, ao invés de falarmos em marxismo na história, fosse mais fácil falar em marxismos, já que existem múltiplas correntes, às vezes conflitantes no interior do pensamento marxista. Do mesmo modo, por se tratar de um dos paradigmas históricos mais antigos, é possível vislumbrarmos uma história do marxismo que tem sua origem em Marx e chega aos dias atuais com pensadores destacados, como Negri e Hardt, Zizek ou Bauman, que foram influenciados decisivamente pelo marxismo. Essa longa história apresenta, portanto, múltiplas correntes e gerações.63

Partindo da obra e da atuação política de Karl Marx, o marxismo se tornou uma força política junto ao movimento operário europeu. Aproximando-se de intelectuais e militantes políticos, o pensamento marxista permaneceu, pelo menos até meados da Segunda Guerra Mundial, no interior de sindicatos ou partidos de esquerda, adentrando a universidade somente naquele período. Dentro das universidades, o desenvolvimento de intelectuais marxistas, dentre eles inúmeros historiadores, mobilizou o pensamento de Marx como um dos mais vigorosos e influentes da época contemporânea.

No entanto, forçoso é confessar, muitas novidades recentemente têm surgido em torno da obra publicada e dos manuscritos do Arquivo Marx. Tirando as obras publicadas em vida por Marx, como A Sagrada Família, A Miséria da Filosofia, O Manifesto do Partido Comunista, Contribuição à Crítica da Economia Política e Livro I de O Capital, os outros trabalhos foram publicados postumamente, ou por Engels ou pelo Instituto Marx-Engels criado em 1912 e dirigido por Riazanov64, que copiou grande parte do Arquivo Marx-Engels de posse do Partido Social-Democracia alemão a partir de 1923, idealizando o projeto da publicação da Marx Engels Gesamtausgabe (MEGA) .65 Com a Segunda Guerra e a consolidação de Stalin no poder, Riazanov foi preso e o projeto interrompido. As obras de Marx foram publicadas pelos russos (Sotchinenia), que haviam adquirido a maior parte do acervo por conta da guerra em 1938, para evitar que fosse queimado pelos nazistas. Sob a organização inicial de V. Adoratski, foram publicados 28 volumes entre 1931 e 1951. Desde então uma parte do acervo ficou em Copenhagen e outra em Moscou. Estudos recentes apontaram algumas discrepâncias nas traduções feitas a partir da edição russa das obras de Marx, por exemplo em A ideologia alemã.

Fotografia preta e branca. Homem de meia idade, cabelo branco ondulado e barba grande. Está sentado, em uma cadeira de madeira virado para o lado direito. Usa camisa social branca de manga longa e terno preto. Está com a mão direita dentro do bolso do terno esquerdo e o braço esquerdo apoiado na cadeira de madeira em que está sentado.
FIGURA 1: Karl Marx.
Fotografia preta e branca. Busto de um homem de meia idade, cabelo liso curto e barba grande. Usa camisa social branca, terno, gravata borboleta e um casaco.
FIGURA 2: Friedrich Engels.

É preciso considerar que – desde a crise do socialismo real do leste europeu durante o final dos anos 1980, a queda do Muro de Berlim e a desintegração da antiga União Soviética –, o marxismo vem sofrido reveses na política e no pensamento contemporâneo. A crise do pensamento marxista, anunciada desde os anos 1950 com as denúncias dos crimes de Stalin ou a descoberta nos anos 1960 das atrocidades da revolução cultural chinesa, provocou um refluxo e mudanças sensíveis no interior do paradigma. Esses eventos foram responsáveis, em certa medida, pela crise do pensamento marxista; contudo, a extensão de tal influência não deve ser exagerada. A filosofia marxista oficial dos partidos comunistas internacionais havia há muito perdido credibilidade, mesmo antes do colapso do regime. No entanto, as ideias marxistas contribuíram principalmente para uma crítica das modernas sociedades capitalistas e à cultura moderna que foi levada a sério por um amplo segmento da opinião pública e de grupos e partidos políticos no mundo. Mas esse marxismo crítico também perdeu parte do seu status pelo fato de seus pressupostos estarem muito intimamente relacionados com suas bases no século 19, não podendo também dar conta das problemáticas da era pós-industrial.66

Embora sua presença seja ainda marcante enquanto um modo de se pensar o passado e o presente, orientando a práxis de historiadores e cientistas sociais, é cada vez menor o número de historiadores que se utilizam do materialismo histórico como uma ferramenta de análise do passado. De qualquer maneira, não fosse a renovação do pensamento marxista provocada pelo surgimento da Nova Esquerda Inglesa, com a obra de historiadores como Edward Thompson, Perry Anderson, Eric J. Hobsbawm, Raymond Williams, entre outros, certamente a presença do marxismo e de seu paradigma junto à História seria ainda muito mais restrita.

Pensar a relação entre o marxismo e a História exige o retorno à obra de Karl Marx, seu fundador. Karl Heinrich Marx nasceu na cidade alemã de Trier no ano de 1818. Apesar de ter cursado direito na Universidade de Berlim, o jovem renano se interessaria principalmente pela filosofia e mais especificamente pela razão dialética presente nos escritos de Hegel67, intelectual bastante lido e apreciado nos círculos acadêmicos da Prússia na primeira metade do século 19. Associado ao grupo universitário conhecido à época como “jovens hegelianos”, Marx se aproximou cada vez mais dos debates políticos do período, chegando a fundar um periódico radical (A Gazeta Renana) na cidade de Colônia em 1842. Naquele mesmo ano, o autor conheceu Friedrich Engels (1820-1895), com quem compartilharia boa parte de suas ideias e opiniões filosóficas até o fim de sua carreira. Por conta de suas propostas e engajamento político, Marx foi obrigado a se exilar em 1849 na Inglaterra, onde viveria até a sua morte no ano de 1883.

Notas proêmias: Fotografia do jornal alemão Rheinische Zaitung de 1842. Capa de jornal em formato retangular com fundo branco. De cima para baixo, estão dispostos de forma alinhada ao centro, na cor preta e com diferentes tamanhos de fonte, os seguintes textos: 1 - Rheinische Zaitung. 2 - fér. 3 -Politit, Handel und Gewerb. 4 - Sein Enstag Ben 16. Cober. Depois há 3 colunas iguais separando diferentes textos.
FIGURA 3: A Gazeta Renana (Rheinische-zeitung).

O pensamento de Marx é extremamente rico e inovador. Do ponto de vista filosófico ele toma de Hegel a dialética, que inverte, revelando o fundamento material das ideias e sua materialização mediante relações sociais concretas. Para Marx, é a existência social que determina a essência do ser humano e não o contrário. E a essência do ser humano é dada pelo trabalho, pela posição ocupada pelo indivíduo nas relações de produção. Ou seja, ele é um crítico do idealismo hegeliano. Outro aspecto das ideias de Marx reside em seu posicionamento político. Ele defende a necessidade de, por meio da revolução, uma transformação radical da sociedade.

Crítico do socialismo utópico e cooperativista de Proudhon, de Sain-Simon e de Blanc68, dentre outros, Marx defende a necessidade de o proletariado fazer a revolução. Nesse sentido constrói dois conceitos fundamentais para compreender essa questão: o de ideologia e o de consciência de classe. Segundo Marx, ao reproduzirem sua existência nas relações de produção segmentadas, o trabalhador não se sente como o produtor das mercadorias, elas ganham uma autonomia em relação ao seu criador e, desse modo, o alienam. Somente tomando consciência de si e para si, enquanto classe, os trabalhadores seriam capazes de transformar essa situação. A consciência de classe é constituída por três aspectos: a) o trabalhador ocupa um mesmo posto diante das relações de produção (ou seja, não detém o capital); b) toma consciência de sua condição e c) luta pelos interesses de sua classe.

Outro tema fundamental do pensamento marxista é a análise econômica. Marx, em O Capital, redigido entre 1857 e 1858, constrói uma análise da gênese e da fundamentação do modo de produção capitalista. Conforme Marx, a sociedade, para satisfazer suas necessidades ao longo do tempo, se organiza em determinadas relações de produção predominantes que determinam sua existência e suas formas de pensamento. Assim, do modo de produção antigo, passando pelo medieval, chegamos ao modo de produção capitalista, analisado por Marx em sua fórmula do capital: D – M – D’.69 Nesse sentido, também introduz o conceito de mais-valia, que é o tempo de trabalho expropriado ao trabalhador ainda na produção, que não se confunde com o lucro, obtido nas relações de mercado. Em sua concepção de História, Marx acredita num avanço das sociedades, rumo à superação de suas contradições. A história seria dialética e seu motor, a luta de classes. A dinâmica dos processos históricos recebeu o nome de materialismo histórico.

Outras obras importantes de Marx são A ideologia alemã (1845), A miséria da filosofia (1847), o Manifesto do Partido Comunista (1848), o 18 Brumário de Luís Bonaparte (1852) e os manuscritos d’O Capital: os Grundrisse (1857-1858).

Marx, arguto conhecedor da economia política clássica inglesa revolucionou a compreensão do capitalismo. Analisou a diferença entre capital e trabalho, definindo o que chama de forças produtivas (materiais e humanas). Ele argumentou ainda que a partir da infraestrutura econômica se ergue uma superestrutura política, jurídica e de formas de pensamento que expressam sua base social. Tal concepção, exacerbada por seus seguidores, deu origem a uma visão economicista da história e da sociedade, de certa maneira consolidada pela obra de Louis Althusser70. Para o historiador francês Pierre Vilar, a originalidade do conceito de modo de produção permite uma leitura global da sociedade, sistêmica, um modelo bastante elucidativo.71

Outro conceito importante na obra de Marx é o de classe social. O termo lhe é anterior, mas o pensador alemão o define dizendo que em cada época uma determinada classe social é dominante, controla o poder, estabelece as regras jurídicas, controla os meios de produção. Para Marx, a divisão das sociedades em duas classes, a burguesia e o proletariado, é um processo lento de cristalização. Segundo ele, as classes se organizam em partidos, fazem alianças e suas posições definem os regimes políticos.

No tocante à ideologia, Marx dá outro sentido ao conceito, distante do modo como era entendido desde Destrutt de Tracty72 em 1796, quando o termo era usado pejorativamente por Napoleão Bonaparte para identificar os ideólogos ou intelectuais fundadores de associações culturais e institutos científicos. De acordo com Marx, a ideologia age mascarando a realidade. Nesse sentido, junto com Engels, buscou demonstrar que Lutero agiu como um reformador burguês, assim como Muntzer era um revolucionário plebeu.73 Ou seja, sob o manto das guerras religiosas escondiam- -se questões sociais do campesinato alemão. Aliás, a relação entre o marxismo e as crenças religiosas é bastante complexo, sobretudo em função da defesa do ateísmo por parte de seus fundadores. A igreja é considerada uma forma ideológica de manutenção de determinadas visões de mundo. Não se trata simplesmente de tomá-la como o “ópio do povo” ou um instrumento de alienação, ela “aparece também como uma linguagem que exprime interesses econômicos, sociais, políticos: e a sua instituição, a Igreja, desempenha o papel de um “aparelho ideológico de Estado” (BOURDÉ; MARTIN, 1994, p. 167).

Em suas Teses contra Feuerbach, a ideologia é analisada de maneira totalmente diversa em relação aos pensadores anteriores a Marx. Com efeito,

As fantasmagorias no cérebro humano são sublimações que resultam necessariamente do processo de vida material... Por isso a moral, a religião, a metafísica e tudo o resto da ideologia, assim como as formas de consciência que lhe correspondem, perdem imediatamente qualquer aparência de autonomia (BOURDÉ; MARTIN, 1994, p. 167).

Não podemos, contudo, enxergar o marxismo como um movimento unificado. Na verdade, a própria doutrina de Marx é repleta de ambivalências e ambiguidades. Ele operava com dois conceitos de ciência distintos, que nem o próprio filósofo, nem seus seguidores foram capazes de reconciliar. Essa primeia visão de ciência era essencialmente positivista e mecanicista em sua visão da realidade, compartilhando muitos dos pressupostos científicos do período aproximado entre 1850 e 1890. Dois conceitos eram básicos nessa visão: 1) que o conhecimento científico objetivo é possível e 2) que o conhecimento científico se expressa em afirmativas gerais sobre o comportamento regrado de fenômenos. Para a história, isso significava que com o objetivo de ater o nível de ciência ela deveria descobrir e formular leis de desenvolvimento histórico. A força motriz por trás da história não seriam ideias, mas, como enfatizado por Marx, as forças produtivas.

É significativo que, para Marx, assim como para a maior parte de seus contemporâneos, o progresso da humanidade estivesse centrado no mundo ocidental, que por si só seria dinâmico, enquanto a Ásia e a África (e aqui Marx concordava com Hegel) se encontrariam estagnados. Essa visão de ciência e história estava profundamente arraigada nas principais correntes de pensamento ocidental no século 19, de modo que o marxismo delas se diferenciava principalmente por suas pretensões revolucionárias.

Por um lado, a dialética repudiava a noção positivista quanto à primazia do mundo fenomenológico pela ciência, pois enfatiza que todas as manifestações visíveis seriam problemáticas, devendo ser compreendidas dentro de um contexto mais amplo de forças conflitantes. Longe de sublinhar a primazia de forças materiais geralmente associadas ao materialismo histórico, essa visão dialética, apesar do discurso materialista de Marx, repudiava uma concepção que situava as forças materiais acima das questões humanas.74

O método dialético então se tornava a base para uma teoria crítica que enxerga as racionalidades, nesse caso a violação da dignidade humana, contida em cada formação social. Mas, por outro lado, Marx fundia sua crítica do positivismo com uma concepção essencialmente positivista de um processo governado por leis, no qual a dialética tomaria uma forma materialista levando à completa realização da história em uma sociedade comunista.

Anos mais tarde, o líder revolucionário russo Vladimir Lenin (1870-1924) modificaria essa visão a partir de um voluntarismo que se focava na centralidade do partido. Isso se seguiu da subordinação da pesquisa e escrita históricas às estratégias cotidianas do partido bolchevique. Ou seja, o marxismo depois do triunfo da Revolução Russa em 1917 ganharia novos contornos, mais dogmáticos e acentuadamente políticos. Mais cientificista e mais economicista, a compreensão da obra de Marx vinculou-se ao crivo dos Partidos Comunistas europeus, especialmente o russo. Colocando a práxis como elemento crucial do pensamento marxista, Lenin, Trotsky, Kautsky, Gramsci e Guesde75, entre outros, evidenciam que teoria e prática são indissociáveis. O pensamento marxista precisava lutar pela transformação social, por sua aplicação na prática. Assim, o materialismo histórico foi promovido à categoria de ciência exata. Com o governo de Stalin76 tais diretrizes se acentuaram ainda mais. Somente a descoberta dos crimes de Stalin em 1956 provocaram um abalo nessa orientação ortodoxa.

Fotografia colorida. Busto de homem calvo na parte frontal da cabeça, barba no queixo e bigode. Usa camisa social branca, terno preto, gravata preta com bolas brancas e um casaco.
FIGURA 4: Vladimir Lenin.

A renovação viria da Itália, com Gramsci; da Hungria, com Lukács; e da Inglaterra, com a Nova Esquerda Inglesa. Já na Segunda Internacional houve um estranhamento das correntes no interior do marxismo, de um lado os seguidores mais ortodoxos, como Kautsky e Guesde,de outro a corrente revisionista, que postulava a necessidade de interpretação e adequação do marxismo à realidade. Duas obras são capitais, nesse período: Que fazer (1902), na qual Lenin define uma estratégia de tomada do poder e O imperialismo, fase suprema do capitalismo (1916), em que o mesmo autor avalia a situação do capitalismo mundial e a necessidade de uma ação concreta de transformação do mundo. De qualquer modo, o chamado marxismo-leninismo se tornou um sistema ideológico de controle do pensamento marxista.

Na União Soviética há uma ruptura dos líderes que integravam as forças revolucionárias: de um lado ficaram Lenin, Stálin, Sverdlov, Molotov e Ordjonikidzé, e de outro Trotsky, Kamenev, Rykov e Bukharin. Estes últimos tinham suas opiniões sempre taxadas de erradas e suas ações eram sempre vistas como negativas. O rompimento se deu com a assinatura dos tratados de paz com a Alemanha, de Brest-Litovsk, em 1918, quando o grupo de Trotsky e sua delegação junto ao partido bolchevique se recusam a assinar o documento. Deturpações da história foram promovidas pelo grupo de Lenin, que conquistou o poder, construindo uma imagem distorcida e burguesa dos trotskystas. As críticas ao marxismo, produzidas no seu próprio interior, chamadas revisionistas surgiram na Segunda Internacional77 quando Otto Bauer colocou A questão da nacionalidades (1907) e Eduard Bernstein fez uma revisão da teoria econômica de Marx, rejeitando a mais-valia e colocando em seu lugar a noção de utilidade marginal em Socialismo teórico e social-democracia (1900).

Na Itália, Antônio Gramsci, membro do PCI e integrante dos comitês de fábricas, foi preso em 1927 por Mussolini. Escreve

Fotografia preta e branca. 4 homens sentados atrás de uma grande mesa que está em cima de um palco. Usam terno e estão olhando para os papéis que estão em cima da mesa. Atrás deles há uma parede preta com textos escritos.
FIGURA 5: Segunda Internacional

os Cadernos do Cárcere, que inovam e arejam o pensamento marxista, introduzindo conceitos como o conformismo/resistência, hegemonia, bloco histórico, revolução passiva. Gramsci observou que as leis econômicas não são exatas, que a dialética não poderia ser divinizada e que a política guarda certa autonomia em relação à economia.78

Fotografia preta e branca. Busto de homem adulto, cabelo curto. Usa óculos redondo de metal e uma camisa social preta.
FIGURA 6: Antônio Gramsci
Fotografia preta e branco. Busto de homem de meia idade, cabelo branco curto. Possui rugas na testa e abaixo dos olhos. Está com a mão esquerda apoiada em seu queixo. Usa um terno preto.
FIGURA 7: György Lukács (1971)

Outro representante da inovação do marxismo viria com o húngaro Gyögy Lukács, que escreveu História e consciência de classe, publicada em 1923. Além dele, também na França, Louis Althusser, que através do estruturalismo faria uma nova interpretação da obra de Marx, produzindo a ruptura epistemológica entre o jovem e o velho Marx. Althusser escreveu Por Marx (1965) e Ler o Capital (1966). Crises existenciais e problemas pessoais tornaram a vida desse pensador bastante conturbada. Além de Althusser, Pierre Vilar, Michel Vovelle, Georges Duby, entre outros, introduzirão conceitos marxistas em suas abordagens historiográficas.79

Além de Althusser, os intelectuais em torno do Instituto de Pesquisa Social da Universidade de Frankfurt, na Alemanha, foram responsáveis por uma ampla revisão dos enunciados marxistas, desde a fundação do instituto no ano de 1923. Conhecida como a “Escola de Frankfurt”, renomados pensadores como Max Horkheimer (1895- 1973), Theodor Adorno (1903-1969), Herbert Marcuse (1898-1979) e Walter Benjamin (1892-1940), reformularam as premissas materialistas da dialética marxista. Seguindo Marx, e afastados do partido comunista, eles estavam preocupados com as condições que permitiam mudanças sociais e o estabelecimento de instituições racionais. A sua ênfase no componente “crítico” da teoria foi derivada significativamente da sua tentativa de superar os limites do positivismo, do materialismo e do determinismo, promovendo um retorno à filosofia crítica de Kant e aos seus sucessores no idealismo alemão, principalmente a filosofia de Hegel, com sua ênfase na dialética e contradição como propriedades inerentes da realidade.80

As interpretações marxistas representavam um desafio à historiografia não marxista menos por questões políticas do que pelo questionamento da tradicional história factual e personalista, exigindo maior atenção ao contexto social e suas mudanças.

A Nova Esquerda Inglesa, grupo surgido em meados dos anos 1950 em torno das revistas Past and Present e New Left Review foram responsáveis pela consolidação e expansão do marxismo junto à História, ao lado da chamada Escola de Frankfurt. A rigor, esses dois movimentos trouxeram novas abordagens e novas reflexões que conferiram novo ânimo ao pensamento marxista. Entre os ingleses podemos destacar Eric J. Hobsbawm, Christopher Hill, Edward Thompson, Raymond Williams, entre outros, como historiadores marxistas decisivos pelo revigorar desse pensamento nos tempos recentes. De todos, Thompson foi um dos mais importantes para a teoria da história, pois defendeu uma história das classes subalternas, uma história escrita sob a perspectiva dos de baixo, que contemplasse a experiência cotidiana e os mundos do trabalho. Thompson inova ainda ao repensar as questões de classe, consciência de classe e a necessidade de a teoria não procurar engessar ou aprisionar a empiria. Segundo ele, a classe deveria ser vista não como um conceito, mas como uma categoria histórica, como um devir em formação.81

Fotografia preta e branca. Busto de homem de meia idade, cabelo branco curto. Usa camisa social branca, terno cinza e gravata estampada.
FIGURA 8: Edward Thompson

A revista Past and Present, fundada por historiadores marxistas britânicos em 1952, mas não controlada pelo partido, em breve se tornou um fórum de discussões entre autores marxistas e não marxistas como Lawrence Stone (1919-1999), Thomas Acton (1899-1968), John Elliot (1930- ) e Geoffrey Elton (1921-1994). Com seu amplo interesse em sociedade e cultura, passou a ocupar um lugar na Grã-Bretanha não tão distinto dos Annales na França. Mas, muito em breve, os estudos marxistas dos grandes levantes na história moderna e na Revolução Industrial voltariam sua atenção de processos sociais anônimos para focar nas formas que essas mudanças assumiram na consciência daqueles que os experimentaram.

Notas proêmias: Fotografia de Revista inglesa Past e Present de 1952. Capa de revista em formato retangular com fundo alaranjado. De cima para baixo, estão dispostos de forma alinhada ao centro, na cor preta e com diferentes tamanhos de fonte, os seguintes textos: 1 - Past e Present. 2 - A journal of sscientifie history. 3 - An interpretation os chinese. 4 - Economic history. Professor Wu Ta-k’un. 5- The economic basis of athenian. 6 - Democracy. 7 - Professor A. H. M. Jones. 8 - Capitalism - What’s in a name?. 9 - R. H. Hilton. 10 - Evangelicalism and the french. 11 - Revolution. 12 - V. Kiernan. 13 - The machine breakers. 14 - E. J. Hobsbawn. 15 - Theodor Mommsen’s Last Wishes. 16 - First publication in England. 17 - Number 1 February 1952 Nine shillings net.
FIGURA 9: Past and Present - v.1 - 1952

Em contraste com a visão marxista tradicional, os estudos marxistas franceses e ingleses dos levantes políticos na Europa medieval e moderna passaram a dar uma face mais humana à história. Georges Lefebvre (1874- 1959) iniciou o caminho com O grande medo de 1789: o pânico rural na França revolucionária, em que examinava o pânico nas regiões rurais que havia favorecido os levantes camponeses. Ronald Hilton (1911-2007) fez algo similar sobre os levantes populares na Inglaterra medieval. Christopher Hill (1912-2003) tratou das classes baixas na revolução inglesa do século 17 e o ativista afro- -americano W.E.B. du Bois (1868-1963) faria o mesmo ao tratar da população negra sulina durante os anos de reconstrução após a Guerra Civil Americana.

Thompson, por sua vez, focava no papel de fatores não econômicos como a ideia de um preço justo que derivava de concepções tradicionais, pré-capitalistas de justiça econômica. O conflito entre valores culturais tradicionais das classes baixas e a emergência de uma economia capitalista e do Estado burocrático seriam o tema de “Rebeldes Primitivos” de Eric Hobsbawm (1917-2012). Como veremos adiante, a semelhança da temática desses trabalhos com aqueles dos Annales é surpreendente, sobretudo, em sua preocupação com o mundo pré-moderno.

Figurando como um dos mais importantes historiadores marxistas do século passado, Thompson afirmava que os escritos de Marx não deveriam ser decisivos da opinião marxista. Ele então distinguia entre um marxismo como limitação e tradição, derivado de Marx, e a aberta investigação crítica. O primeiro se manteria na tradição da teologia. O segundo seria a tradição da razão ativa que havia se libertado da noção puramente acadêmica de que os problemas de nosso tempo (e as experiências de nosso século) seriam compreendidos pelos escrutínios de um texto publicado há cento e vinte anos atrás. Ele rejeitava a ideia de uma “classe trabalhadora protótipo” se apoiando, ao contrário, em uma “concreta classe trabalhadora inglesa” que teria emergido em um contexto histórico específico. O foco na cultura significava um afastamento dos métodos científicos que objetivavam as ações humanas, além de uma aproximação que eleva a compreensão de elementos qualitativos que construiriam uma cultura a partir da sua ligação com a literatura, com a arte, com o folclore e o simbolismo.82

Thompson então rejeitava três conceitos marxistas básicos: a primazia das forças econômicas, a objetividade do método científico e a ideia de progresso. Não fosse a manutenção do conceito de classe, seu vínculo com a teoria marxista seria bastante tênue. As críticas ao seu trabalho residiam no seu conceito de classe baseado na ideia de cultura, pelo fato de este não abrigar aqueles que eventualmente não tivessem vínculos com o processo produtivo.

Como resultado desse revisionismo historiográfico, o projeto History Workshop foi fundado como uma revista de “historiadores socialistas” baseada na abordagem de Thompson sobre a história do trabalho. A transformação do periódico, desde a fundação em 1976 até o ano de 1995, documentava mudanças fundamentais que tiveram lugar nas abordagens marxistas sobre a História da Grã-Bretanha e de outros lugares. O foco no papel das mulheres contribuiu para uma expansão no escopo da revista assim como a uma exploração de novas abordagens metodológicas. Atenção era dada para as formas pelas quais trabalhadores experimentavam o trabalho sob as condições de produção no contexto industrial, a partir do conceito de consciência de classe dos trabalhadores. As experiências das mulheres também eram quase sempre situadas nesse contexto.83

No início dos anos 1980 o periódico devotou cada vez mais espaço ao papel da língua como fator constituinte da experiência social. Rejeitando a posição radical de estruturalistas linguísticos representada por Lacan, Foucault e Derrida, para os quais “não existe realidade externa à qual a língua se refere, portanto nenhuma tensão dialética e nenhum princípio de mudança”, os editores ao contrário enfatizavam que “a linguagem do socialismo antecederia a aparição de um movimento socialista”. Além disso, a revista concordava com as teorias feministas de que o gênero não seria naturalmente dado, mas culturalmente construído e absorvido pela linguagem, vendo ao mesmo modo a língua atuar por si mesma como reflexo e ação sobre a sociedade.

A complexidade do mundo contemporâneo – ambientais, étnicas, sexuais – haviam se tornado tão visíveis que os termos “socialista” e “feminista” com as conotações que carregavam já não eram mais suficientes. A revista havia sido bem sucedida em seu objetivo de expandir fronteiras disciplinares, mas isso também havia ocorrido em outros importantes periódicos, como os Annales, o inglês Past and Present, os Quaderni Storici italianos e o Journal of Interdisciplinary History americano. O exemplo da reformulação temática de tais periódicos e das teorias defendidas por seus principais teóricos nos permite observar que tanto a teleologia marxista quanto a concepção de classe, que era fundamental à sua compreensão da sociedade e da prática política, foram irremediavelmente abaladas. Foi-se o tempo em que o marxismo era uma das correntes mais vigorosas da historiografia contemporânea. Embora sua presença seja ainda marcante enquanto um modo de se pensar o passado e o presente, orientando a práxis de historiadores e cientistas sociais, é cada vez menor o número de pesquisadores que se utilizam do materialismo histórico como uma ferramenta de análise do passado. Na França e nos Estados Unidos, outras orientações teórico-metodológicas não apenas colocaram o marxismo em questão, como também restringiram sua importância junto à pesquisa, mantendo-o tão somente como instrumental para a luta política.

No Brasil, o marxismo ainda encontra espaço junto às universidades, permanecendo vivo entre professores e alunos em diversas instituições. De qualquer maneira, não fosse a já descrita renovação do pensamento marxista provocada pelo surgimento da Nova Esquerda Inglesa, com a obra de historiadores como Edward Thompson, Perry Anderson (1938), Eric J. Hobsbawm, Raymond Williams (1921-1988) entre outros, certamente a presença do marxismo e de seu paradigma junto à História seria ainda muito mais restrita.

Os Annales

A escola francesa Annales de historiadores, centrada em torno da revista Annales d’histoire économique et sociale (Anais de História Econômica e Social), ocupou um lugar único na historiografia do século 20. Por um lado, seus membros compartilhavam a confiança de outros historiadores orientados na possibilidade de uma abordagem científica da história; por outro, eles estavam cientes dos limites de tais procedimentos.84

Notas proêmias: Fotografia de Revista francesa Annales de 1929. Capa de revista em formato retangular com fundo branco. De cima para baixo, estão dispostos de forma alinhada ao centro, na cor azul escuro e com diferentes tamanhos de fonte, os seguintes textos: 1 - Annales. 2 - D’historie économique. 3 - Et sociale. 4 - Directeurs: . 5 - Marc Bloch - Lucien Febvre. 6 - Tome premier. 7 - Année 1929. 8 - Carimbo de biblioteca. 9 - Librairie Armand Colin. 10 - 103, Boulevard Saini-Michel, Paris. 11 - 1929.
FIGURA 10: Revista de Annales - vol.1

A escola dos Annales foi uma revolução ou uma inovação em História? São um paradigma histórico? Um regime de historicidade? Tal questão tem acompanhado os historiadores desde 1929, quando foi criada por Marc Bloch e Lucien Febvre a Revista dos Annales na França. Tal periódico informou o nascimento de uma verdadeira tradição historiográfica contemporânea, talvez uma das mais influentes e vigorosas. De acordo com muitos autores, poderíamos dividir essa longa tradição historiográfica em três ou quatro gerações: a de Bloch e Febvre (1929-1946), a de Braudel (1946-1968), a de Le Goff (1968-1992).

Alguns historiadores chegam a defender a existência de uma quarta geração, com Roger Chartier (1945) e Jacques Revel (1942). Da geração de Le Goff despontam historiadores como Georges Duby (1919-1996), Emanuel Le Roy Ladurie (1929), Maurice Agulhon (1926) e Michel Vovelle (1933). Contudo, para alguns, como François Dosse, a Escola dos Annales teria terminado com a terceira geração, pois, desde então, a chamada Nova História ou Nova História Cultural Francesa representa uma fragmentação e uma história em migalhas que foge dos princípios preconizados pelos fundadores.85

otografia preta e branca. Busto de homem de meia idade, calvo.  Usa óculos redondo de metal preto, camisa social branca, terno preto e gravata listrada.
FIGURA 11: Marc-Bloch-1944.
Fotografia preta e branca. Busto de homem de meia idade, cabelo liso curto. Usa camisa social branca, terno preto e  gravata estampada.
FIGURA 12: Lucien Febvre.

Cabe observar que, virtualmente, todos os historiadores, desde Ranke, passando por Marx e Weber, e após eles os historiadores americanos orientados pelas Ciências Sociais, haviam visto a história em termos de movimento em torno de um tempo unidimensional do passado ao futuro. Os historiadores dos Annales mudaram radicalmente essa concepção ao focar na relatividade e multiface do tempo. Nesse sentido, o livro sobre o Franco condado, escrito pelo jovem Febvre em 1911, já sinalizava uma transição a um novo tipo de ciência histórica. A cultura não seria mais compreendida como um domínio intelectual e estético privilegiado de uma elite, mas como uma forma na qual toda uma população experimentava e vivia a vida. Febvre e especialmente Bloch, que estudou em Leipzig e Berlim entre 1908 e 1909, seguiram de forma muito próxima o trabalho feito pela história econômica e social na Alemanha do início do século 20.

É importante, nesse sentido, salientar a relevância que a ciência histórica alemã teria sobre a formação de distintas escolas históricas subsequentes. Lembremos que após a Guerra Franco- -Prussiana, em 1872, a região da Alsácia e Lorena foram incorporadas ao Estado alemão e serviram para promover um fecundo e intenso intercâmbio entre franceses e alemães. A adoção nas universidades dos textos e autores alemães teria sido fundamental para a renovação das ciências humanas na França, promovendo um intercâmbio que não mais cessou.86

Não que antes não houvesse esse intercâmbio, mas depois ele se teria se tornado mais intenso. Muitos professores franceses lecionaram nessas universidades, agora alemãs. Do diálogo com a filosofia alemã, especialmente de Kant, com a hermenêutica de Droysen, Schleiermacher e Dilthey, com o historismo de Meinecke e Von Ranke e, ainda, com a sociologia de Rickert, Sombart, Simmel e Weber, vingaria na França uma significativa renovação do pensamento, da literatura e das artes. Se pensarmos em nomes como Halbwachs, Bloch, Febvre, Heidegger e Foucault, entre outros, é inegável a influência do pensamento germânico recebido. Os integrantes da chamada Escola Metódica Francesa já haviam demonstrado que as raízes de seu modelo de história eram provenientes das inovações verificadas na Alemanha. A pedra de toque dos metódicos era a aplicação, na História, de novas técnicas desenvolvidas pela hermenêutica mescladas com elementos do historicismo alemão (BOURDÉ; MARTIN, 1994, p. 99).

Não é possível furtar-se, contudo, à transformação promovida pela criação da revista dos Annales, em 1929, à história e à historiografia. Reunindo um grupo de jovens historiadores que passam a combater os metódicos, representava mesmo uma revolução, pois atacava o próprio establishment historiográfico francês. E o fazia incutindo-lhes a pecha de positivistas, algo que certamente os irritava de modo profundo. As raízes do grupo encontram- -se na criação da Revue de Synthèse Historique do início dos anos 1920 fundada por Henri Beer. Como carro-chefe de sua abordagem, encontra-se uma recusa radical da história política e factual tal como predominava junto aos metódicos e na valorização da vida social e das atividades econômicas, não desprezando ainda a dimensão psicológica da História. Tornando o periódico um campo de discussões interdisciplinares, Berr adiantava alguns dos debates que estariam no centro das atenções da academia francesa durante as décadas seguintes.

As diretrizes desse novo grupo que posteriormente seria conhecido como Escola dos Annales foram sintetizadas em dois textos-manifestos: Combates pela História, de Lucien Febvre, e Apologia da História, de Marc Bloch, historiadores que são considerados os pais dessa nova corrente historiográfica. A Nova História se contrapõe à velha história: à história dita positivista, também chamada de événementiélle87, excessivamente política e factual e ainda à história erudita e literária. Do ponto de vista institucional tratava-se de uma rivalidade entre os metódicos encastelados na Sorbonne e o grupo de historiadores da 6ª Sessão da École Pratique de Hautes Études. Esse novo grupo, ao buscar novos objetos e temas de estudos, consegue rapidamente espaço editorial e na imprensa. Assim, conquistam leitores acadêmicos e pessoas comuns, iniciando uma tradição historiográfica que, segundo alguns autores, chega até nossos dias.

Costuma-se dividir a Escola dos Annales em três gerações: a primeira, de Bloch e Febvre, que vai de 1929 a 1945; a segunda, de Braudel, que vai de 1945 a 1968; e a terceira, de Jacques Le Goff. Alguns historiadores chegam a defender a existência de uma quarta geração, com Roger Chartier e Jacques Revel, embora para François Dosse o novo grupo tenha abdicado de prosseguir com essa tradição ao optar por uma história em migalhas.88 Da geração de Le Goff despontam historiadores como Georges Duby, Emanuel Le Roy Ladurie, Maurice Agulhon e Michel Vovelle.

Os annalistes substituíram a heráldica, a hermenêutica e a paleografia pela aproximação com outras ciências como a Economia, a Sociologia, a Geografia e a Psicologia. A aproximação com a economia certamente advém do estímulo a esses estudos promovidos por Gustav Schmoller, professor alemão em Estrasburgo que criou em 1893 uma revista de história social e econômica, a Vierteljahrschrift fur Sozial und Wirschftsgeschichte. Na Inglaterra, a história econômica sempre teve muitos adeptos, como Cunningham e Roger dentre outros. Na França foi praticada, antes dos Annales, por Henri Hauser, Henri Sée e Paul Mantoux no final do século XIX. As críticas à história política eram bastante comuns àquela altura. Durkheim, Weber, Lamprecht e até mesmo August Comte fizeram críticas contundentes a esse tipo de história. François Simiand, discípulo de Durkheim escreveu um instigante livro Introdução ao estudo das ciências sociais (1903), em que manifesta a necessidade de se combater os três ídolos da história: o político, o individual e o cronológico.

Tanto Bloch quanto Febvre foram alunos de Lévy-Bruhl, do linguista Meillet, influenciados por Durkheim e pelo geógrafo Vidal de La Blache. Entre 1920 e 1933 foram pra Estrasburgo, que, depois da Primeira Guerra Mundial, havia sido reincorporada ao território francês. Também conversavam bastante com o psicólogo Charles Blondel e com o sociólogo Maurice Halbwachs. Contudo, após a derrota alemã, a influência do pensamento social alemão foi obliterada pelo revanchismo francês que procurava (a)firmar-se perante à herança alemã. Não por acaso a reintegração da Alsácia e de Lorena à França reverberou na nomeação de prestigiosos professores franceses para a Universidade de Estrasburgo, que, lentamente, eclipsou a Kaiser Wilhelms Universitat.

As obras-primas dessa primeira geração dos Annales são Os reis traumaturgos (1923), de Bloch, e O renascimento e a reforma, de Febvre, embora O problema da descrença no século XVI: a religião de Rabelais, de 1942, também de Febvre, seja mais famosa. Valorizam o coletivo, os fatos sociais, as atitudes mentais, a mentalidade primitiva, as representações coletivas. Para criar a revista dos Annales, Febvre e Bloch convidaram Henri Pirenne, um historiador econômico; aliás, a revista deveria privilegiar a história econômica. Pirenne recusou e, assim, eles se tornam os editores da revista que se tornaria a mais famosa e importante na área em todo o mundo, criada em 15 de janeiro de 1929, inicialmente batizada de Annales d’Histoire Économique et Sociale. Em seguida, em 1933, Febvre tornou-se professor no Collège de France; em 1936, Bloch também, substituindo Hauser. Foi igualmente nesse ano que a sede da Revista dos Annales deixou Estrasburgo e foi para Paris. Bloch encarregou-se ainda de redigir vários artigos combatendo os empiricistas e defendendo uma nova escrita da história aberta a novos problemas e às sensibilidades.89

Bloch foi morto pelos nazistas em 1944. Embora tivesse mais de 50 anos, alistou-se como voluntário. Na prisão escreveu o Apologia da História, em que apresenta as principais teses dos Annales, bem como deixa explícita sua adesão a alguns princípios da hermenêutica e do pensamento social alemão.90 Febvre continuou a revista, com novos colaboradores como Charles Morazé, mudando-lhe o nome, em 1946, para Les Annales. Economies, Societés et Civilizations; depois, em 1947, reformou a 6a sessão da Escola Prática de Altos Estudos. Adotou como herdeiro intelectual Fernand Braudel, que havia sido seu aluno da Sorbonne, lecionado na Argélia, no Brasil (na USP entre 1935 e 1937). Preso perto de Lübeck na Segunda Guerra Mundial, escreveu sua tese O Mediterrâneo e Filipe II, publicada em 1949 em três volumes: o primeiro trata da história imóvel; o segundo, da história das estruturas; e o terceiro trata dos acontecimentos, postulando sua original interpretação sobre as temporalidades históricas e acentuando a importância na história quase imóvel, ou a chamada longa duração. Ao mesmo tempo, inova nessa obra ao abordar uma história da vida material. Braudel dirigiu os Annales de 1946 a 1968, bem como a Escola Prática de Altos Estudos e o Collège de France. Em 1969 publicou seus Escritos sobre a História, reafirmando a importância da interdisciplinaridade ao historiador.91

Como se pode ver, a escola dos Annales é tributária da influência da história econômica como uma forma privilegiada de se acessar o real. Para os annalistes, o conjunto de documentos não é limitado, é preciso utilizar-se de diferentes fontes. Mas valorizam a sincronia e a objetividade históricas. Nessa primeira geração destaca-se a compreensão das sociedades no passado. Contudo, a pretendida abertura aos novos documentos é uma falácia. Na Introdução aos Estudos Históricos, Langlois e Seignobos dão uma definição bastante aberta do que consideram documentos: testemunhos dos atos e pensamentos dos homens. Dosse considera que os annalistes são herdeiros da tradição iluminista e chama a quarta geração de traidores dos princípios de Bloch e Febvre, da ambição totalizante da história desprezada por modismos e por uma fragmentação (ele usa o termo eclatée, que em francês significa fragmentada, mas também barulhenta) pós-moderna (REIS, 2002, p. 77). Um traço relevante é a negação do evento em favor da duração. Tanto Febvre quanto Bloch foram profundamente marcados pela hermenêutica alemã e pelo historicismo, embora Bloch procure alicerçar a compreensão em dados objetivos, em comprovações empíricas.

De todo modo, não podemos desconsiderar alguns importantes desenvolvimentos próprios dos annalistes franceses. O entendimento dos jovens intelectuais sobre a abordagem científica, por exemplo, refletia a ligação próxima entre a geografia, a economia e a antropologia na historiografia francesa, em contraste com a ênfase no Estado, na administração e na jurisprudência da tradição alemã aos moldes do que era pensado por Max Weber (1864-1920). Sob essa luz, a grande importância que Febvre e Bloch atribuíam a estruturas anônimas se tornava compreensível, assim como a atenção que davam aos aspectos de sentimentos e experiência embutidos nas mentalidades coletivas que formavam a temática de um tipo específico de antropologia histórica.

Os Annales de forma alguma defendiam uma doutrina fechada. A história para os annalistes ocupava um papel central entre as ciências que lidavam com o homem, mas de uma forma diferente do historicismo clássico. Enquanto o último havia elevado o Estado como a instituição-chave à qual todos os outros aspectos da sociedade e da cultura estavam subordinados, os historiadores dos Annales aboliram as fronteiras entre as disciplinas tradicionais, com o objetivo de integrá-las entre as “ciências do homem” (sciences de l’homme). O plural era usado intencionalmente com o objetivo de enfatizar a pluralidade das ciências. A proposta dos Annales era, conforme Bloch e Febvre explicaram na introdução ao primeiro número da revista lançada em 1929, estimular novas abordagens.

Como já mencionado, em 1946 os Annales receberiam uma firme base institucional na Sexta Sessão da École Pratique des Hautes Etudes. Essa institucionalização traria resultados conflitantes. Ela favoreceria a pesquisa interdisciplinar e assim, constantemente, a uma nova abertura, tornando o trabalho em equipe possível, coordenando vários projetos que paulatinamente usavam os novos recursos tecnológicos de processamento de dados. Desse modo, nos anos sessenta e setenta, por um lado a grande síntese de Braudel, Pierre Goubert (1915-2012), Le Goff, Duby, Le Roy e Robert Mandrou (1921-1984) apareceu nos Annales; por outro, eram contribuições altamente especializadas, escritas em um jargão incompreensível a leigos.

Apesar da grande variedade de abordagens metodológicas e conceituais, após oitenta anos os trabalhos dos historiadores dos Annales continuaram possuindo muito em comum. Para ilustrar isso devemos olhar brevemente para os importantes trabalhos que surgiram entre 1911 e 1980. É notório perceber que em nenhum desses trabalhos há instituições centrais servindo como guia em uma narrativa histórica na qual ações de pessoas possuem um papel decisivo. Isso não significa que o papel da política seja ignorado.

Para sermos mais específicos, seu foco estaria nas estruturas. Em A sociedade feudal (1939) de Marc Bloch, por exemplo, os reis raramente eram citados, e quando isso ocorria era apenas de forma secundária. No livro de Braudel sobre o Mediterrâneo (1923-1949, e 1949-1966), eles são relegados a uma sessão separada na história política da região, com pouca conexão orgânica com as duas partes precedentes que traziam com uma abordagem geográfica quase atemporal da região do Mediterrâneo e sua lenta mudança na estrutura econômica e social.

Como citado anteriormente, os historiadores dos Annales introduziram um novo conceito de tempo histórico nos debates historiográficos. A maior parte desses historiadores abandonou amplamente a ideia de uma história linear, direcionada, muito característica do pensamento histórico na transição do tempo pré-moderno à modernidade. No lugar de um tempo histórico, os Annales veem uma pluralidade de tempos coexistentes, não apenas entre diferentes civilizações, mas também em civilizações singulares. Com o abandono do conceito de tempo linear, a confiança no progresso e a crença na superioridade da cultura ocidental também passou a ser questionada.92

Os primeiros trabalhos de Febvre mostram similaridades com as tentativas francesas e alemãs de escrever uma história econômica e social integradas histórica e geograficamente a uma região, sem ignorar aspectos políticos. A geografia é um importante segmento da historiografia dos Annales, mas sempre a “geografia humana” ciente da interação entre cultura e espaço físico. Além disso, muito mais importante do que a economia para a análise de uma sociedade ou de uma cultura seria a semiótica, pois cada cultura seria um sistema de significados que se expressaria na linguagem ou no simbolismo.

Fotografia preta e branca. Busto de homem de meia idade, cabelo branco curto. Usa óculos quadrado preto, camisa social branca por baixo de um terno e uma gravata. As mãos estão sobre uma mesa. Ao fundo há uma estante de livros desfocada.
FIGURA 13: Fernand Braudel.

Em comparação com Bloch e Febvre, o trabalho de Braudel parece muito menos sutil. Braudel pavimentou o caminho para a história quantitativa dos anos 1960 e 1970 sem que ele próprio se tornasse um historiador quantitativo. Em sua história econômica da França, ele estava interessado nos grandes ciclos recorrentes que determinavam a atividade econômica durante décadas e séculos.

Nos anos 1960 o grande fascínio das ciências sociais pela quantificação também tomaria conta dos Annales. A história da consciência também ocupou um papel importante nos escritos dos annalistes. O fascínio com o computador transformou o estudo das mentalidades. Assim, a “história das mentalidades”, como defendida por Pierre Chaunu (1923-2009) e Michel Vovelle (1933-), partia do pressuposto de que a reconstrução das mentalidades era possível com base na análise de dados de massa. Segundo Ladurie, as mentalidades seriam um conceito ambíguo, aquilo que César e seus soldados compartilhariam, subsidiado na longa duração.

O que permanece distinto dos Annales em seus escritos sobre o mundo moderno e contemporâneo é o seu foco na cultura e símbolos que tornam as tradições políticas modernas compreensíveis, como nos volumes Os lugares de memória (1984/1992), organizados pelo historiador parisiense Pierre Nora (1931-). E também o recente aporte em torno das lutas de representações, tal como propostas por Roger Chartier, nas quais se disputam os significados e as práticas definidoras do vivido. O trabalho desses historiadores ajudou a erigir a ponte entre história e literatura. Sua forte veia antropológica preveniu as principais correntes dos Annales de sucumbir ao cientificismo que caracterizou muito da ciência social do período.

Fotografia preta e branca. Busto de homem de meia idade, cabelo branco curto. Usa camisa social de gola quadriculada por baixo de um suéter de cor preta. Segura um cachimbo com a mão direita e tem ele colocado na lateral da boca. Ao fundo há uma estante de livros desfocada.
FIGURA 14: Jacques Le Goff.
Fotografia preta e branca. Busto de homem de meia idade, cabelo branco curto. Está sentado atrás de uma mesa. A mão esquerda está esticada para frente. Usa um óculos retangular de metal, camisa social branca e terno cinza. Na mesa à sua frente há um copo de água, um microfone e uma placa escrita “Roger Chartier”. Ao fundo há uma estante de livros um pouco desfocada.
FIGURA 15: Chartier Roger.
63
BOURDÉ, Guy; MARTIN, Hervé. O marxismo e a história. In: ______. As escolas históricas. Lisboa: Europa-América, 1994. [Ver no texto]
64
David Borisovich Goldendach (1870-1938), mais conhecido como David Riazanov foi um intelectual, ativista sindical e revolucionário ucraniano, diretor do Instituto Marx-Engels de Moscou e responsável pela primeira tentativa de editar as obras completas de Karl Marx e Friedrich Engels, a Marx-Engels-Gesamtausgabe. [Ver no texto]
65
Sobre a publicação da MEGA, cf. LEFEBVRE, J.-P. Presentation du corpus; ZAPATA, R. La publication dês oeuvres de Marx après sa mort. In: LABICA, G. agmentação 1883-1893. L’oeuvre de MarxUn siècle après. Paris: PUF, 1985. [Ver no texto]
66
Cf. BOBBIO, N. As ideologias e o poder em crise. Trad. João Ferreira. Brasília: Ed. UnB; São Paulo: Polis, 1988. [Ver no texto]
67
O pensador e ideólogo alemão Georg Wilhelm Friedrich Hegel (1770-1831) foi um dos mais influentes da filosofia alemã e considerado o último dos grandes criadores de sistemas filosóficos dos tempos modernos. O pensamento hegeliano serviu de base para a maior parte das tendências filosóficas e ideológicas posteriores, como o marxismo, o existencialismo e a fenomenologia. [Ver no texto]
68
Pensadores e ativistas políticos do século 19. Em sua maioria se opuseram aos deslocamentos trazidos pela Revolução Industrial e criticaram o que conceberam como injustiça, desigualdades e sofrimentos gerados pela revolução e o mercado livre laissez faire no qual ela se sustentava. Os socialistas utópicos eram apontados como desejosos de expandir os princípios da Revolução Francesa, a fim de criar uma sociedade e sistema econômico mais racional. Apesar de serem rotulados como utópicos pelos socialistas posteriores, seus objetivos não eram sempre utópicos, e seus valores incluíam frequentemente suporte científico e a criação de uma sociedade baseada em tais princípios. [Ver no texto]
69
A circulação capitalista, como Marx a descreveu, é o gasto de dinheiro, D, para a compra de materiais, M, que serão utilizados na produção de produtos que serão vendidos por uma quantia maior de dinheiro, D’. A circulação capitalista, em suma, é D-M-D’. [Ver no texto]
70
Louis Althusser (1918-1990) foi um filósofo francês de origem argelina e um dos principais estudiosos do marxismo. Para desenvolver a teoria marxista, utiliza como método de análise o estruturalismo, decompondo, para o seu estudo, o pensamento marxista e as leis que, segundo este, regem a vida do homem em sociedade. [Ver no texto]
71
VILAR, P. História marxista, história em construção. In: LE GOFF, J.; NORA, P. (Org.). História: novos problemas. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1979. [Ver no texto]
72
Antoine-Louis-Claude Destutt, o conde de Tracy (1754-1836), foi um filósofo, político, soldado francês e líder da escola filosófica dos Ideólogos. Criou o termo idéologie (1801) no tempo da Revolução Francesa, com o significado de ciência das ideias, tomando-se ideias no sentido bem amplo de estados de consciência. [Ver no texto]
73
Trata-se de eventos ocorridos no início da Reforma Protestante, século 16, na região da atual Alemanha. [Ver no texto]
74
Cf. ANDERSON, P. A crise da crise do marxismo. São Paulo: Brasiliense, 1984. [Ver no texto]
75
Pensadores e ativistas políticos marxistas do início do século XX. [Ver no texto]
76
Josef Vissarionovitch Stalin (1879-1953) foi secretário-geral do Partido Comunista da União Soviética e do Comitê Central a partir de 1922 até a sua morte em 1953, sendo assim o líder da União Soviética nesse período. [Ver no texto]
77
A Segunda Internacional (1889-1916) ou Internacional Socialista ou ainda Internacional Operária foi uma organização dos partidos socialistas e trabalhistas criada principalmente por iniciativa de Friedrich Engels, por ocasião do Congresso Internacional de Paris, em 14 de julho de 1889. Do congresso participaram delegações de vinte países. [Ver no texto]
78
SCHLESENER, A. Revolução e cultura em Gramsci. Curitiba: UFPR, 2002. [Ver no texto]
79
VILAR, P. História marxista, história em construção. In: LE GOFF, J.; NORA, P. (Orgs.). História: novos problemas. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1979. [Ver no texto]
80
BOURDÉ, Guy; MARTIN, Hervé. A escola metódica. In: ______. As escolas históricas. Lisboa: Europa-América, 1994. [Ver no texto]
81
VILAR, P. História marxista, história em construção. In: LE GOFF, J.; NORA, P. (Org.). História: novos problemas. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1979. [Ver no texto]
82
THOMPSON, Edward P. A miséria da teoria ou um planetário de erros. Rio de Janeiro: Zahar, 1981. [Ver no texto]
83
BOURDÉ, Guy; MARTIN, Hervé. A escola metódica. In: ______. As escolas históricas. Lisboa: Europa-América, 1994. [Ver no texto]
84
BOURDÉ, Guy; MARTIN, Hervé. A escola metódica. In: ______. As escolas históricas. Lisboa: Europa-América, 1994. [Ver no texto]
85
DOSSE, François. A história em migalhas. São Paulo: Ensaio, 1999. [Ver no texto]
86
Alsácia-Lorena é um território de população germânica, originalmente pertencente ao Sacro Império Romano-Germânico, tomado por Luís XIV da França depois da Paz de Vestfália em 1648, mas devolvido pela França à Alemanha recém- -unificada, conforme o Tratado de Frankfurt (10 de maio de 1871), que encerrou a Guerra Franco-Prussiana, e em seguida retomado pela França após a Primeira Guerra Mundial, nos termos do Tratado de Versalhes, de 1919. Foi anexado pelo Terceiro Reich alemão em 1940, durante a Segunda Guerra Mundial, e retomado pela França em 1945. [Ver no texto]
87
Preocupada em descrever o evento puramente. [Ver no texto]
88
DOSSE, François. A história em migalhas. São Paulo: Ensaio, 1999. [Ver no texto]
89
BURKE, P. A Revolução Francesa da Historiografia: a Escola dos Annales, 1929- 1989. Tradução de Nilo Odália. São Paulo: Unesp, 1991. [Ver no texto]
90
Principalmente quando diz que a finalidade da história é compreender, e não explicar o passado. BLOCH, Marc. Apologia da história. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998. [Ver no texto]
91
BOURDÉ, Guy; MARTIN, Hervé. As escolas históricas. Lisboa: Europa-América, 1994. [Ver no texto]
92
BURKE, Peter. A escola dos Annales. São Paulo: Unesp, 1990. [Ver no texto]
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