Capítulo 4 As Revoluções Inglesas do século XVII
O debate historiográfico sobre as causas da Revolução Inglesa
Os acontecimentos do século XVII inglês continuaram, até bem dentro de nossa época, a provocar um vivo debate. Até mesmo a forma como classificá-los, principalmente o acontecimento-chave desse período, a Guerra Civil da década de 1640. As formas de classificar esta guerra se sucederam de acordo com a posição dos historiadores, simpáticos ou não ao Parlamento, whigs ou tories62, marxistas ou liberais. Assim, ela foi denominada de diversas formas: Rebelião, Grande Rebelião, Interregno, Revolução Puritana, Revolução Inglesa, Guerras Civis Inglesas ou Guerras Civis Britânicas63.
Todavia, algumas questões não deixaram de chamar a atenção dos historiadores que tentaram interpretar a Revolução Inglesa de 164064, a começar pela natureza de suas causas. Os primeiros historiadores da Revolução se pronunciaram sobre alguns temas que serão recorrentes ao longo da historiografia da Revolução Inglesa. Teria a Revolução sido provocada por causas imediatas, isto é, as origens da Revolução remontariam somente aos últimos anos do reinado de Carlos I, ou ao contrário, suas causas repousariam num passado mais remoto? Encontramos uma defesa desse último ponto de vista na obra The Commomwealth of Oceana de James Harrington (1611-1677), na qual este autor creditava a crise vivida pela monarquia inglesa a fatores sociais de longo prazo, como teria sido o caso da mudança da base agrária inglesa. Assim, foi a quebra do equilíbrio social existente até então, com a aristocracia como seu pilar, com a transferência de terras para a mão do “povo”, leia-se gentry65, yeomen66 e os habitantes da cidade, que provocou a ruína da monarquia Stuart. Já entre os defensores de causas de curto prazo podemos relacionar o livro, contemporâneo à Revolução, a History of the rebellion and civil wars in England, de Edward Hyde (1609-1674), conde de Clarendon. Clarendon atribuía as origens da Revolução a fatores políticos e constitucionais, os quais podiam facilmente ser repertoriados nos últimos anos de Carlos I.
A partir do século XVIII, a historiografia da Revolução foi “partidarizada”, na medida em que foi marcada pela disputa política entre dois “partidos”, os tories e os whigs. Essa disputa deixou traços indeléveis na história da Inglaterra desde então, influenciando decisivamente a visão que se tinha da crise do século XVII, ao mesmo tempo que essa disputa se tornou uma referência para os embates políticos do presente. Assim, os tories apresentaram uma história do período em que Carlos I sofria as ameaças da oposição parlamentar e era esta que visava usurpar as liberdades inglesas que Carlos defendia. Por sua vez, os whigs apresentavam uma versão inversa dos fatos, colocando o Parlamento como o verdadeiro centro defensor dessas liberdades, opondo-se à tirania do rei. Estes foram os casos do tory moderado, David Hume (1711-1776), e da whig Catherine Macaulay (1731-1791). Hume, com sua History of Great Britain, buscou, segundo o historiador R. C. Richardson, defender que sem autoridade a liberdade não pode existir. Buscou também desmentir que houvesse uma antiga constituição do reino claramente definida na época e que foi justamente sua falta de precisão que causou a guerra civil67. As posições tories foram violentamente atacadas pela republicana Catherine Macaulay em History of England from the accession of James I to that of the Brunswick Line, 1763 e 1783, no qual ela defendia a causa parlamentar e, apesar do seu republicanismo, condenava sem meias palavras Oliver Cromwell68.
Contudo, foi no século XIX que apareceu a mais acabada história da Revolução na perspectiva whig, tanto mais importante que se tornou uma espécie de história oficial inglesa. Essa façanha coube a Thomas Babington Macaulay (1800-1859), que, entre 1846-1861, publicou sua History of England. Nessa obra, esse historiador claramente se posicionava do lado do Parlamento, o qual lutava pela liberdade, pelos direitos, contra as arbitrariedades de um rei tirânico.
Ao longo do século XIX outras perspectivas da Revolução apareceram, e entre elas destaca-se o trabalho de Samuel Rawson Gardiner (1829-1902), que aportou à historiografia da Revolução a ideia de que os acontecimentos do século XVII teriam uma natureza essencialmente religiosa. Foi criação sua a expressão revolução puritana. Tornou assim clássica a compreensão de que a força motriz da Revolução foi uma luta entre instituições e ideologias religiosas ao escrever seu livro The Puritan Revolution69.
Com o século XX, vimos aparecer a interpretação social da Revolução. A perspectiva política que até então predominara deu lugar a uma abordagem que privilegiava a natureza das classes e os seus respectivos papeis na Revolução. Essa interpretação, influenciada por Marx e Weber, teve como pioneiro o historiador Richard Henry Tawney (1880-1962). Em seus trabalhos, Tawney deu uma importância capital ao papel desempenhado pela gentry, considerando este segmento social como o elemento que por seu dinamismo permitiu a emergência da Revolução. A interpretação social avançou ainda mais com a abordagem marxista da Revolução, que teve um impulso a partir da década de 1940 com os trabalhos de John Edward Christopher Hill (1912-2003). Este historiador foi o que levou às últimas consequências a interpretação social da Revolução Inglesa, identificando os acontecimentos de 1640 como um processo de ascensão da burguesia, isto é, como uma revolução burguesa.
Foi, contudo, o historiador inglês Lawrence Stone (1919-1999) quem desenvolveu, em seu livro Causas da Revolução Inglesa, um modelo explicativo para as origens do processo revolucionário de 1640 que se tornou clássico. Stone apoiou-se fortemente em conceitos das ciências sociais e na historiografia de Alexis de Tocqueville. Para tanto, procurou estabelecer um modelo das causas da Revolução Inglesa que levasse em consideração elementos como estrutura e conjuntura, papel dos grupos e dos indivíduos, inevitabilidade ou não dos processos históricos.
Um tal modelo causal foi na direção do que Pierre Vilar chamara de história total70, pois visava dar conta das características multifacetadas dos processos históricos, isto é, seus elementos sociais, econômicos, políticos, culturais e ideológicos. Para isso, Stone forjou uma terminologia de classificação das causas da Revolução de 1640 em precondições (longo prazo), precipitadores (médio prazo) e detonadores (curto prazo). As precondições e os precipitadores seriam “as tendências sociais, econômicas e ideológicas de longa duração que tornam possíveis as revoluções, e que são passíveis de análises comparativas e de generalizações”; já os detonadores, “as decisões pessoais e o padrão acidental dos acontecimentos que podem ou não desencadear a explosão revolucionária, e que são únicos e inclassificáveis”71.
Duas ondas revisionistas colocaram em questão a interpretação social da Revolução Inglesa. A primeira onda, na década de 1950, foi centrada no historiador Hugh Redwald Trevor-Roper (1914-2003), que desencadeou a chamada “tempestade sobre a gentry”, isto é, o questionamento do papel da gentry como uma classe em ascensão que teria impulsionado a Inglaterra em suas transformações revolucionárias. A segunda onda, cujo início foi na década de 1970, colocou em questão a natureza burguesa da Revolução de 1640, além de questionar as causas de longo prazo da Revolução, chegando mesmo a duvidar do seu caráter revolucionário.
Os Stuarts e as causas da Revolução de 1640
A dinastia Stuart72 chegou ao trono inglês com Jaime I, substituindo a dinastia Tudor, já que a rainha Isabel não deixara herdeiros. A conjuntura histórica em que assumiu o novo rei era marcadamente diferente daquela do reinado da falecida rainha. Certos fatores que favoreceram o reinado de Isabel, particularmente na sua relação como o Parlamento – principalmente a rivalidade com a Espanha católica, a qual colocou a Inglaterra sob a ameaça de uma invasão espanhola, ameaça que fazia com que os parlamentares ingleses se unissem às políticas da coroa para defender a nação –, não mais se faziam notar. Nas primeiras décadas do século XVII a Inglaterra parecia inexpugnável às ameaças externas. Assim sendo, a relação de Jaime I com o Parlamento não foi das mais amistosas. Aquele aspecto principal da vida da monarquia, o custeio das despesas da coroa, encontrou sempre enorme dificuldade de ser resolvido, com o Parlamento dificultando a aprovação de fundos para o rei, o que progressivamente foi deteriorando a relação entre o rei e o Parlamento.
Assim, quando o Parlamento se recusou a conceder um fundo especial para pagar o que seus opositores consideravam suas extravagâncias, Jaime I estabeleceu novos impostos sobre os mercadores sem o consentimento do Parlamento73, ameaçando o poder que este se arrogava possuir. As finanças públicas continuaram a se deteriorar e a dívida da coroa aumentou significativamente, a despeito de a Inglaterra encontrar-se numa época de paz. Os conflitos com o Parlamento continuaram e Jaime I usou a prerrogativa que lhe restava de dissolver os parlamentos e não os convocar. Assim, dissolveu o Parlamento de 1611 e até o fim do seu reinado convocou somente mais um Parlamento, em 1614, sendo este rapidamente dissolvido.
O que também agravou em muito a relação de Jaime I com o Parlamento foi sua decisão de se manter neutro nos conflitos europeus, algo pouco usual para um rei inglês. Daí sua política de buscar casar seus filhos tanto no lado protestante quanto no católico dos Estados europeus. Sua filha Isabel Stuart casou-se com o eleitor palatino, o príncipe protestante Frederico V, em 1613. Pretendia que seu filho Henrique, herdeiro do trono, se casasse com uma infanta espanhola, mas ele acabou falecendo prematuramente. Contudo, continuou com o mesmo projeto em relação a Carlos, o novo herdeiro do trono. Devemos lembrar que essa política de neutralidade persistiu mesmo depois de 1618, quando começou a Guerra dos Trinta Anos, na qual a Europa se viu envolvida numa guerra entre potências católicas e protestantes e cujo pivô inicial do conflito foi seu próprio genro, Frederico V. Mesmo nesse momento, Jaime não quis levar sua nação protestante a apoiar seu genro e as outras potências protestantes, o que aumentou em muito o desagrado de setores importantes do topo da sociedade inglesa, que já vira com maus olhos a política de aproximação com a potência católica espanhola, que recentemente fora uma inimiga.
Nos últimos anos do reinado de Jaime I, mais e mais a condução da política inglesa coube a seu filho Carlos e a seu antigo favorito, George Villiers (1592-1628), o duque de Buckingham. Contudo, a condução da política inglesa não mudou, já que Carlos estava imbuído do projeto do pai de se casar com uma princesa espanhola. Foi o insucesso do Spanish match (casamento espanhol) — que ficou claro após o fracasso da espetacular viagem de Carlos e Buckingham a Espanha, em fevereiro de 1623, para tentar efetivar o casamento — que o levou a modificar a política de neutralidade, ao mesmo tempo que não renunciou a buscar uma noiva católica. Como fracassara o casamento com a infanta Maria Anna, ele se voltou para outra princesa católica, no caso Henriqueta Maria, a filha mais nova de Henrique IV, antigo rei da França, com quem se casou em junho de 1625. Mas o fracasso do Spanish match fez com que Carlos se decidisse por entrar em guerra com a Espanha, conseguindo que Jaime I, em 1624, declarasse guerra a esse país. Guerra esta que começou no ano seguinte com Carlos já como rei, após a morte de Jaime, em março de 1625.
Apesar da guerra contra a Espanha, a gentry parlamentar não deixou de encarar o novo rei com bastante desconfiança, para dizer o mínimo. Como Buckingham continuou a ser o favorito de Carlos e monopolizava todas as benesses que o rei podia prodigalizar, setores importantes da nobreza inglesa o encaravam com enorme hostilidade, assim como era enormemente impopular em todo reino, como se pode ver em um texto da época: “Quem governa o reino? O rei. Quem governa o rei? O duque. Quem governo o duque? O Diabo.” Também colaborou decisivamente para essa desconfiança a questão religiosa, isto é, uma rainha católica instalada no Palácio de Withehall e o crescente domínio na igreja anglicana do arminianismo74.
Assim, quando Carlos se viu envolvido em duas guerras, a já mencionada guerra com a Espanha e a nova guerra com a França, declarada em 1627, sua situação financeira tornou-se muito difícil. Diferentemente de seu pai, convocou vários parlamentos para obter os subsídios75 necessários à condução dessas guerras. Mas, pelas razões já mencionadas, os parlamentos em sequência se obstinaram em lhe recusar os recursos demandados. Mesmo a poundage e a tonnage (taxas de exportação e importação), tradicionalmente concedidas vitaliciamente para um rei que iniciava seu reinado, foram outorgadas apenas por um ano pelo Parlamento de 1625, seu primeiro parlamento.
Os parlamentos que sucederam ao Parlamento de 1625 também mantiveram a mesma hostilidade com o rei ao lhe negar os subsídios. Carlos, então, como aconteceu com a poundage e a tonnage, as quais passou a cobrar indefinidamente sem autorização do Parlamento, passou à ofensiva contra a oposição parlamentar, estabelecendo a hospedagem obrigatória de tropas (billeting), decretando empréstimos forçados e mandando prender quem se recusava a pagá-los. Durante o terceiro Parlamento de Carlos (aberto em março de 1628), essa ofensiva real provocou uma crescente oposição que alcançou extremos em julho de 1628, quando o Parlamento aprovou a Petição de Direitos76 e, um mês mais tarde, culminou no assassinato de Buckingham. Essa crise se fechou no ano seguinte, quando Carlos, diante da oposição que persistia no quarto Parlamento, reunido em janeiro, fechou este Parlamento em março e começou seu governo pessoal que duraria 11 anos.
Carlos então tinha em mente uma só ideia: fortalecer o poder real. Em outras palavras, estabelecer uma monarquia absoluta. Para tanto, Carlos implementou uma política de governo de múltiplas direções: buscava a independência financeira da coroa, a criação de um exército permanente, a uniformidade religiosa anglicana, entre outras. Assim, Carlos procurou governar com base na prerrogativa real, o que lhe permitia exercer a justiça exclusivamente nos tribunais da coroa e cobrar certas taxas sem o consentimento do Parlamento. Fez, portanto, com que os tribunais da coroa, como a Star Chambre (Câmara Estrelada), prevalecessem sobre os tribunais baseados no direito costumeiro, estes últimos fortemente influenciados pelos interesses da gentry. Os monarcas ingleses podiam cobrar certas taxas baseados em suas prerrogativas, era o caso do ship money77. Contudo, cobrou esta taxa em tempos de paz e a fez recair sobre os habitantes de áreas não costeiras, além de passar a cobrá-la permanentemente.
Entretanto, o cerne de sua política de fortalecimento do poder real foi a chamada Thorough (completa ou minuciosa, em português). Este termo designava a política conduzida por Thomas Wentworth e William Laud para estabeleceram o modo absolutista de governar. Assim, Thomas Wentworth (1593-1641), mais conhecido como conde de Strafford, buscou desenvolver o aspecto político da Thorough. Strafford foi indicado por Carlos para ser Lord Deputy (governador) da Irlanda e como tal governou com mão de ferro essa colônia inglesa, resultando disso sua capacidade de extrair subsídios do Parlamento irlandês, ao mesmo tempo que conseguiu levantar um exército local.
Já o arcebispo da Cantuária78, William Laud (1573-1645), conduziu o braço religioso da Thorough. Buscou, de um lado, estabelecer um férreo controle da igreja anglicana, ao nomear apenas clérigos arminianos como bispos. De outro, buscou a uniformidade religiosa anglicana, ao combater puritanos e presbiterianos escoceses. No caso destes últimos, tentou impor o livro de prece comum inglês na Escócia em 1637 – que possuía uma igreja predominantemente calvinista –, a obediência dessa igreja ao sistema episcopal e a retomada das antigas terras das abadias escocesas, agora na mão da nobreza escocesa. Opondo-se a isso, os escoceses assinaram em 1638 uma national covenant (um pacto nacional), o qual rejeitava todas as imposições de Carlos e de Laud. Ao saber disso, Carlos teria declarado: ‘‘antes morrer do que me submeter a estas impertinentes e detestáveis exigências’’79. Assim, no começo do verão seguinte, Carlos resolveu ir à guerra contra os escoceses.
A Guerra dos Bispos, como ficou conhecida, terminou sem vencedores na Pacificação de Berwick de junho de 1639. No entanto, isto se revelou apenas uma trégua, já que Carlos, conhecido por seu caráter inflexível, continuou com o mesmo propósito de impor sua política religiosa à Escócia por meio da guerra. Só que, para isso, precisava de recursos. Aconselhado por Strafford, rendeu-se aos fatos e convocou o Parlamento. Os integrantes deste, reunidos em 13 de abril de 1640, tinham em mente os 11 anos de governo pessoal de Carlos e suas arbitrariedades. Portanto, a principal preocupação do Parlamento foi atacar as políticas que Carlos tentara implementar até então. Diante dessa oposição feroz, em 5 de maio de 1640 Carlos dissolveu o Parlamento, que ficou conhecido, então, como o “Curto Parlamento”.
Assim, decidido a derrotar a todo custo a rebeldia dos escoceses, Carlos recomeçou os preparativos para a guerra. Dessa forma, a Segunda Guerra dos Bispos teve início em agosto de 1640, quando os escoceses tomaram a iniciativa militar e atravessaram a fronteira com a Inglaterra. Na batalha de Newburn de agosto de 1640, os ingleses foram derrotados, tendo as tropas escocesas avançado até Newcastle. Não restou a Carlos outra saída senão aceitar a derrota e negociar uma trégua em setembro de 164080. Derrotado e com tropas escocesas estacionadas no norte da Inglaterra (as quais precisavam sustentar-se e não sairiam se não fosse paga uma indenização de guerra), Carlos foi obrigado a chamar um novo Parlamento, que se reuniu em 3 de novembro. Este seria o Longo Parlamento.
Como aconteceu com o Curto Parlamento, o Longo também não facilitaria as coisas para Carlos. Desde o início houve uma forte oposição ao rei. Líderes como John Pym (1583-1643) afirmaram que o reino padecia de muitos males e sua origem estava no papismo. Como o rei ainda era intocável, recaiu sobre Strafford todo o ódio dessa oposição. Isso custou a vida de Strafford, executado em maio de 1641.
No entanto, durante o primeiro ano do Longo Parlamento o conflito entre o rei e a oposição parlamentar poderia ter encontrado uma saída negociada, não fosse a questão do comando do exército a ser enviado à Irlanda. Este país, que era uma verdadeira colônia inglesa, entrou em rebelião em outubro de 1641. Era ponto pacífico para Carlos e para o Parlamento a necessidade de esmagar a revolta irlandesa. Contudo, a questão do comando do exército que deveria ser mandado à Irlanda se tornou crucial, sobretudo com o desenrolar dos acontecimentos no Parlamento. Este, depois de um pequeno recesso em novembro de 1641, passou a debater a aprovação de uma Grande Reprimenda (Grand Remonstrance), que relacionava uma enorme sequência de erros cometidos pelo rei. No dia 22 de novembro, ela foi aprovada por 159 votos a 148. E, fato excepcional, foi publicada81. Se a oposição comandada por Pym ficou satisfeita com a aprovação da Reprimenda, Carlos também considerou o episódio como uma vitória. Isso porque a oposição conseguiu uma maioria de votos relativamente apertada, o que o levou a pensar que tinha quase a metade dos Comuns ao seu lado e, portanto, a resolver agir.
Nesse ínterim, os líderes dos Comuns, temendo que qualquer exército reunido fosse usado contra eles antes de ser mandado à Irlanda, planejaram obter o controle do exército forçando o rei a aceitar um “militia bill” (lei da milícia) em dezembro. Quando foi confrontado com essa exigência, Carlos exclamou “por Deus, nem por uma hora”. Ao mesmo tempo, temendo que os Comuns aprovassem um impeachment de Henriqueta Maria82, tomou uma decisão desesperada ao mandar prender cinco membros dos Comuns em janeiro de 1642 – o que foi um fiasco, já que conseguiram escapar à prisão se refugiando junto à City. Os acontecimentos então se precipitaram, com os Comuns mais do que nunca dispostos a controlar o exército, o que os fez dar um passo em direção à Revolução ao aprovar as militia ordinance (ordenanças da milícia), pela qual eles convocavam tropas e as colocavam sob seu comando. Diante disso, Carlos saiu de Londres e também começou a reunir tropas. Em agosto de 1642, os dois exércitos começaram a Guerra civil.
A guerra civil de 1642
A primeira batalha importante da Guerra Civil foi a de Edgehill, em 23 de outubro de 1642. Essa batalha não teve vencedores dada a falta de preparo militar observada em ambos os campos. A partir de então desenhou-se uma guerra que não seria curta. Apesar de todas as dificuldades, Carlos conseguiu reunir um exército de mais de vinte mil homens, apelidado de exército dos cavaleiros, para enfrentar o Parlamento e seu exército, que passaria a ser conhecido jocosamente, ao longo do conflito, de round-heads (cabeças redondas). Conseguiu ter também certo predomínio no Norte e no Sudoeste da Inglaterra, enquanto os parlamentares tinham o apoio dos condados do Leste e do Sudeste, das principais cidades e, principalmente, de Londres.
Ao longo do ano de 1643, pouco mudou no cenário da guerra. Porém o Parlamento conseguiu o apoio dos escoceses, por meio do acordo chamado Liga e Pacto Solenes — pelo qual deveria ser estabelecida uma união civil e religiosa da Inglaterra, Escócia e Irlanda sob um sistema parlamentar-presbiteriano. Por força desse acordo, o exército escocês entrou na Inglaterra nesse mesmo ano para lutar contra Carlos. Contudo, no ano seguinte aquele cenário começou a mudar, ao mesmo tempo que foram se definindo os “partidos” no processo da Guerra Civil. Se, de um lado, havia o rei e seus partidários, conseguindo adesões mesmo de antigos opositores moderados como Edward Hyde e um quadro mais homogêneo de seguidores, do outro, havia o Parlamento e suas múltiplas divisões.
No Parlamento havia a famigerada divisão entre presbiterianos, a maioria, e independentes, a minoria. A questão religiosa e a questão da condução da guerra estabeleciam a linha divisória entre esses “partidos”. Foi devido à sua concepção religiosa que receberam seus nomes. Os membros do Parlamento chamados de presbiterianos defendiam que a Igreja da Inglaterra deveria ter o mesmo caráter da igreja presbiteriana dos escoceses, uma igreja sem bispos e de pura confissão calvinista, mas uma igreja nacional uniforme, controlada por um sínodo de presbíteros. Da mesma forma, os independentes retiravam seu nome de sua concepção religiosa, a qual, por um lado, era semelhante aos presbiterianos na mesma defesa que faziam de uma doutrina puramente calvinista, mas diferenciava-se, por outro, quanto ao tipo de eclesiologia que defendiam. Se os independentes condenavam também uma igreja episcopal, defendiam, porém, ferozmente uma igreja congregacionalista83. Consideravam a independência da paróquia como o fundamento de sua concepção de igreja e defendiam a tolerância religiosa.
Essas concepções religiosas nortearam a maneira de abordar a guerra que estavam fazendo contra Carlos. Assim, os presbiterianos, conservadores, composto dos setores mais elevados da sociedade, eram favoráveis a uma guerra defensiva e uma paz negociada, isto é, a um acordo com Carlos acima de tudo, ao passo que os independentes integravam o “partido” dos que queriam ganhar a guerra (win-the-war party), cujo principal suporte estava nos grupos sociais inferiores, e visavam impor ao rei sua política84.
Sobretudo com a grande vitória em Marston Moor, em 2 de julho de 1644, na qual o exército de Carlos I foi derrotado pela combinação decisiva do exército escocês e das tropas parlamentares, em especial aquelas comandadas por Oliver Cromwell. Este último granjeou a fama de herói do dia. Após esta vitória, os independentes e seu líder, Cromwell, impuseram a constituição do exército de novo tipo (new model army) 85, cujas características principais foram o recrutamento de tropas entre as camadas populares da nação e a promoção por mérito. Idealizadores e defensores da constituição desse exército no Parlamento viram sua força política crescer à medida que tal exército começou a provar sua eficácia com vitórias decisivas, como a de Naseby (14 de junho de 1645).
De fato, a sorte da guerra modificou-se decisivamente após essa batalha. Carlos parecia irremediavelmente derrotado, pois pouco pôde fazer a partir de então no campo militar, restando-lhe apena se entregar às tropas escocesas em 1646. Chegava ao fim assim a primeira fase da Guerra Civil.
O ano de 1647 é um ano decisivo. Após ficar sob custódia dos escoceses, Carlos foi entregue ao controle do Parlamento. Os presbiterianos, maioria no Parlamento, aproveitando essa oportunidade, iniciaram negociações com Carlos, as quais tiveram por ponto principal a instalação de uma igreja presbiteriana na Inglaterra, o que estava previsto nas propositions of Newcastle. Carlos deveria aceitar o presbiterianismo por três anos e o controle da milícia pelo Parlamento por dez anos. Ao mesmo tempo, tentaram eliminar a força do new model army, procurando dissolvê-lo, sem nem mesmo pagar os soldos atrasados das tropas. Isso provocou uma agitação política dentro do exército, trazendo para dentro dele o movimento nivelador (leveller) 86.
Por sua vez, os independentes não queriam ficar para trás numa negociação com o rei, já que não tinham nenhuma intenção de ceder em suas posições políticas. Assim, foi do interesse tanto dos independentes quanto dos levellers o episódio no qual o rei foi retirado de Holmby House, em Northampshire, onde estava sob custódia do do Parlamento, em junho de 1647, e sua transferência para Newmarket sob a custódia do exército. Contudo, esses dois grupos passaram a divergir na medida em que Oliver Cromwell (1599-1658) e os outros grandees87 tinham uma clara posição conservadora quanto à política e à sociedade, o que foi manifestado no documento que serviu de base para as negociações com o rei, conhecido como heads of proposals (tópicos de propostas), no qual reafirmavam que só os ingleses proprietários tinham o direito de governar. Já os niveladores atacaram essa posição dos independentes no documento Acordo do Povo, em que defendiam que todo inglês era nascido livre e enquanto tal deveria ter o direito à franchise, isto é, o direito de votar.
A situação ficou tensa entre esses dois grupos do exército, mas providencialmente veio a notícia da fuga de Carlos e a necessidade de retomar a luta contra ele. Começava, em 1648, a segunda fase da Guerra Civil.
O exército unido conseguiu, ao longo de 1648, fazer frente a Carlos e aos, agora seus aliados, escoceses. Ao final do ano Carlos estava novamente derrotado e prisioneiro do exército. Contudo, já se ouviam claramente vozes falando em república e elas não vinham do lado dos niveladores, mas do próprio genro de Cromwell, o general Henry Ireton (1611-1651). Em dezembro de 1648, os parlamentares presbiterianos foram expurgados do Parlamento pelo exército e este tornou-se senhor da situação, sendo Cromwell seu senhor. As coisas se precipitaram e, em janeiro de 1649, Carlos foi julgado em nome do povo e condenado à morte. Terminava a guerra civil.
A Commomwealth e o Protetorado
Com o Parlamento expurgado, os levellers esmagados em Burford, Cromwell e o exército se tornaram o centro do poder. A república (Commomwealth) foi estabelecida; os bispos, expulsos da Câmara do Lordes. Dois problemas maiores, que eram a rebelião na Irlanda e o apoio que os escoceses davam aos Stuarts, foram enfrentados. Couberam a Cromwell essas duas tarefas. Enviado à Irlanda como comandante das tropas inglesas, desembarcou em território irlandês e conseguiu esmagar ferozmente os rebeldes irlandeses, inclusive massacrando-os no famoso episódio de Drogheda de setembro de 1649. Começou a partir daí o processo que pacificaria e recolonizaria o país. O mesmo se repetiu em 1650, na sua ida à Escócia. Lá teve que enfrentar as ameaças do pretendente Stuart ao trono, o futuro Carlos II, que, como seu pai, também encontrara apoio entre os escoceses. Apesar de ter forças numericamente inferiores, Cromwell pôde derrotar os escoceses em Dunbar, em setembro de 1950. Um ano mais tarde, deu por finda a Guerra Civil ao derrotar o pretendente ao trono na batalha de Worcester.
Também foi nesse momento que os chamados Atos de Navegação foram estabelecidos. Esses Atos foram aprovados pelo Parlamento entre outubro de 1650 e outubro de 1651 sob a liderança de Oliver Cromwell e visavam retirar o transporte de mercadorias do controle holandês. Estes Atos acabaram levando à Primeira Guerra Holandesa (1652-1655). Um ato de navegação já tinha sido introduzido pelo parlamento em 1621 e, como afirma Christopher Hill, “frequentes sugestões foram feitas nas décadas seguintes para que as mercadorias fossem importadas e exportadas exclusivamente pelos navios ingleses”. Mas sem maiores consequências. A novidade agora era que “pela primeira vez o estado atuaria como uma liderança para integrar o comércio do país num único monopólio nacional”. Na visão de Hill a grande mudança econômica introduzida pela Commomwealth foi que a partir de então “os interesses comerciais passaram a ser a principal preocupação dos governantes”88.
Assim, Cromwell se tornou uma figura incontornável para a Commomwealth. Entretanto, seu controle da política inglesa foi tudo menos tranquilo. O chamado “rabo do Parlamento” (Rump Parliament), o Parlamento que sobrara após o expurgo do coronel Pride em dezembro de 1649, encontrava clara resistência do exército, o que levou à sua dissolução, em 20 de abril de 1653, com o apoio de Cromwell. O Parlamento de Berebone, como ficou conhecido, convocado em junho desse mesmo ano, também não conseguiu resolver o problema do equilíbrio de poder entre as instituições da república, particularmente porque esse Parlamento mostrou-se bastante radical a ponto de tentar escapar ao controle de Cromwell. O exército o dissolveu em dezembro de 1653.
O major general John Lambert (1619-1684), responsável pelo golpe que derrubou o Parlamento de Berebone, foi o idealizador do Instrumento de Governo, primeira constituição escrita da Inglaterra, pela qual se instituía o Protetorado, tendo Cromwell como Lorde Protetor. Um novo Parlamento foi eleito em setembro de 1654, seguindo o que determinava nesta matéria o Instrumento de Governo, que estabelecia um sistema unicameral. Radicais e realistas se opuseram a essa constituição, o que acabou levando ao seu fracasso. Em 1657, o segundo Parlamento do Protetorado aprovou uma reformulação do Instrumento, chamado Humilde Petição e Conselho (Humble Petition and Advice), que restabelecia muitos dos elementos monárquicos, como a Câmara dos Lordes. No intuito de diminuir o poder dos majores-generais89, Cromwell foi convidado a aceitar a coroa, o que acabou recusando.
A morte de Cromwell, em setembro de 1658, tornou ainda mais difícil a sobrevivência desse regime. Seu filho, Richard Cromwell (1626-1712), foi eleito Lorde Protetor, mas nem de longe tinha a autoridade conquistada pelo pai. A crise política se agravou ainda mais depois que foi forçado a deixar o poder em maio de 1659 pelos majores generais. Nesse meio tempo, o chamado Rump Parliament foi novamente convocado, ao mesmo tempo que o major general John Lambert tentava deter o controle político. Numa situação cada vez mais conturbada, em que a crescente anarquia e a ameaça do retorno dos niveladores acabaram tornando a volta da monarquia como a solução menos dolorosa. O general George Monck (1608-1700) foi a figura que liderou a concretização dessa solução ao conseguir derrotar o major general Lambert e em 1660 garantir o retorno da monarquia.
A Restauração (1660-1688) e a Revolução Gloriosa (1688)
Carlos, o filho mais velho de Carlos I, pôde então retornar à Inglaterra como Carlos II. A monarquia inglesa tinha sido restaurada, contudo não era a mesma de antes do Interregno. O rei que agora assumia o trono da Inglaterra esteve engajado na Escócia na tentativa de, com o apoio dos covenanters, conseguir voltar ao trono inglês. Mas, como vimos, foi derrotado em Worcester e teve que ganhar o caminho do exílio. Carlos acertou com Monck e a Convenção inglesa, Parlamento eleito em abril de 1660, que o exército republicano seria generosamente tratado, que haveria liberdade de consciência para todos os cristãos e que os assassinos de seu pai seriam julgados pelo Parlamento.
A Convenção foi substituída, em maio de 1661, pelo chamado Parlamento Cavaleiro, o qual duraria até 1679. A princípio a relação entre o rei e o Parlamento foi bastante harmoniosa, mas com o tempo tensões crescentes apareceram. Colaboraram para essas tensões a derrota na Segunda Guerra Holandesa (1665-1667) e a venda de Dunquerque para a França. O bode expiatório dessa crise acabou sendo Edward Hyde (conde de Clarendon), o lorde chanceler, demitido em 1667. Teve início a época da Cabal (nome derivado das iniciais dos principais ministros de Carlos: Clifford, Arlington, Buckingham, Ashley e Lauderdale).
Aquelas tensões aumentaram mais ainda na década seguinte, quando o rei chegou a receber de seu primo, Luís XIV, três milhões de libras como doação. Assim, o Parlamento impôs a lei do Test de 1673, a qual previa que os funcionários da Coroa deviam jurar obediência à Igreja anglicana, assim como uma série de leis penais contra os católicos e dissidentes, o que levou à demissão do irmão do rei, o duque de York Jaime, católico declarado. Carlos contra-ataca, impondo a volta dos católicos e autorizando indiferentemente os cultos. Diante disso o parlamento aprovou o Habeas Corpus em 1679. Nesse ano, Carlos dissolveu o Parlamento.
Teve início a crise provocada pela tentativa de excluir Jaime da sucessão ao trono, pois Carlos II não tinha herdeiros legítimos. Os parlamentos eleitos de 1678, 1680 e 1681 tentaram legalizar essa exclusão por meio de um bill of exclusion (lei de exclusão). Foi nesse momento que se formaram as duas tendências políticas que terão um longo futuro na história inglesa, os whigs (designação dos rebeldes presbiterianos da Escócia) e os tories (fora-da-lei católicos da Irlanda). Os primeiros defendiam a exclusão do duque de York da linha de sucessão em benefício do filho natural de Carlos, o duque de Monmouth, enquanto os outros defendiam a forma tradicional de sucessão ao trono.
Carlos II, depois de dissolver seu último Parlamento, conseguiu controlar a situação e impor a sucessão de seu irmão ao trono. Talvez essa tarefa tenha sido facilitada pelo complô de Rye House, uma tentativa de assassiná-lo e a seu irmão, que foi desbaratada e seguida de forte repressão. Portanto, quando Carlos morreu em 1685, Jaime II tornou-se rei. Nesse ano, no mês de maio, Jaime II convocou seu primeiro Parlamento e houve durante um curto período uma “lua de mel” entre ambos. Conseguiu com certa facilidade desbaratar a rebelião perpetrada por seu sobrinho, o duque de Monmouth. Pôde manter essa “lua de mel” enquanto agradou a maioria parlamentar composta pelo “partido” tory e os anglicanos.
Contudo, logo sua política pró-católica o afastaria dessa maioria. Assim, em 1686, ele criou uma corte especial, o Tribunal de Comissionários para Causas Eclesiásticas. Tal corte lembrava a odiada Court of High Commission90. Nesse mesmo ano, ele retomou as relações com Roma e abriu uma capela católica em Whitehall. Os beneditinos e jesuítas voltaram a atuar no reino. Diante da resistência do Parlamento, ele acabou dissolvendo-o em 1687. Em abril de 1687, ele cometeu o erro de promulgar a Declaração de Indulgência que revogava o bill of test. Em maio de 1688, ele voltou a promulgar uma segunda Declaração de Indulgência. E em junho do mesmo ano, o rei, então com 55 anos, tornou-se pai de um varão, Jaime-Eduardo.
Esse nascimento alarmou a oposição, pois esta viu malograda a possibilidade de suceder ao trono um rei protestante, na figura de Guilherme de Orange, esposo de Maria, a filha de Jaime II. Assim, teve início um plano de “convidar” esse casal para reinar sobre a Inglaterra. No começo de novembro de 1688, Guilherme de Orange desembarcou na Inglaterra com 11 mil soldados de infantaria e 4 mil na cavalaria. Ele trouxe inscrito em suas bandeiras a razão para seu ato: pro religione protestante, pro libero parlamento (em defesa da Liberdade, do Parlamento e da Religião Protestante). No dia 25 de dezembro do mesmo ano, Jaime II fugiu para a França, o que foi considerado uma abdicação ao trono. Muito menos traumático (e sangrento) do que a Revolução de 1640, este acontecimento entraria para a história como a Revolução Gloriosa.
Em 29 de janeiro de 1689, foi eleita uma Convenção, reunião das câmaras dos Comuns e dos Lordes. No dia 13 de fevereiro, ela adotou uma “lei pela Declaração dos direitos e liberdades do súdito e pela regulamentação da sucessão à Coroa”. Essa lei é mais conhecida como o Bill of Rights e enumera os direitos do Parlamento segundo a tradição, rejeita a suspensão de uma lei pelo poder real, reconhece a todos os ingleses o direito de petição ao rei, regulamenta a sucessão e exclui todo futuro pretendente católico. No dia 23 de fevereiro, ao aderirem ao Bill of Rights, os dois soberanos são proclamados “corregentes” da Inglaterra, Escócia e Irlanda, encerrando o secular conflito, entre o rei e o Parlamento, que tinha arrastado a Inglaterra à Revolução por duas vezes.
62 Ver mais abaixo o significado destes termos.
63 WORDEN, Blair. The English civil wars 1640-1660. Londres: Phoenix, 2009. p. 2
64 Optamos por usar a expressão consagrada.
65 Gentry, em uma definição simplificada, era a pequena nobreza ou a nobreza não titulada, isto é, os que não tinham títulos de condes, duques, etc. Foi nesse grupo social que os Stuarts encontraram o grosso dos que lhe faziam oposição no Parlamento.
66 Os pequenos proprietários não nobres.
67 7 RICHARDSON, R. C. The debate on the English Revolution. New York: St. Martin’s Press, 1977. p. 46
68 Idem, p. 61.
69 STONE, Lawrence. Causas da Revolução Inglesa. Bauru: Edusc, 2000. p. 99
70 VILAR, Pierre. Croissance économique et analyse historique. In: PREMIÈRE CONFÉRENCE INTERNATIONALE D’HISTOIRE ÉCONOMIQUE. Annales… Stockholm, 1960. Paris/Haia: Mouton, 1960. p. 41-85.
71 STONE, Lawrence. Op. cit., p. 88.
72 Dinastia escocesa, aparentada da dinastia inglesa Tudor, iniciada com Jaime I (1566-1625/1603-1625) e continuada com Carlos I (1600-1649/1625-1649), Carlos II (1630-1685/1660-1685) e Jaime II (1633-1701/1685-1688).
73 Ponto crucial da constituição inglesa era a natureza do Parlamento inglês e de sua relação com o monarca. Diferentemente dos estados absolutistas de sua época, a Inglaterra tinha um Parlamento ativo, composto por duas câmaras, a dos Lordes e a dos Comuns, que detinha um importante poder de aprovar os recursos necessários ao funcionamento da coroa, na medida em que cabia a ele aprovar ou não a criação de impostos e taxas.
74 O movimento foi nomeado a partir de Jacobus Arminius (1560-1609), teólogo holandês reformado, que propôs uma interpretação da ortodoxia calvinista, a qual questionava, principalmente, a ideia de predestinação e acreditava no divino direito dos monarcas.
75 Uma soma de recursos formalmente concedida pelo Parlamento à coroa e levantada por especial taxação.
76 A petição de direitos passou no Parlamento em junho de 1628. Estabelecia que não poderia haver taxas sem o consentimento do Parlamento, prisão sem causa, aquartelamento de soldados junto aos súditos e lei marcial em tempos de paz.
77 Ship money (dinheiro do navio, em tradução literal) era uma taxa de origem medieval cobrada em épocas de guerra na Inglaterra. Recaía apenas sobre os moradores de áreas costeiras.
78 O arcebispo da Cantuária era, depois do rei, o chefe da igreja anglicana.
79 CARLTON, Charles. Charles I. IN: DEWALD, Jonathan (Ed.). Europe 1450 to 1789: Encyclopedia of the Early Modern World. New York: Thomson/Gale, 2004. v. I, p. 460.
80 WANKLYN, Malcolm; JONES, Frank. A military history of the English Civil War, 1642-1646: strategy and tactics. Horlow: Person/Longman, 2005. p. 7.
81 Este apelo à “opinião pública” por si só era algo excepcional. cf. MERLO, P. M. S.; OLIVEIRA, J. M. A época moderna e a construção da dicotomia entre o público e o privado. 1. ed. Vitória: Universidade Federal do Espírito Santo; Secretaria de Ensino a Distância, 2017.
82 “Para forçá-lo a concordar que o novo exército deveria ficar sob o controle do Parlamento, rumores foram difundidos de que certos aspectos do levante eram do conhecimento da rainha, que poderia por isso ser acusada de alta traição”. WANKLYN, Malcolm; JONES, Frank. A military history of the English Civil War, 1642-1646: strategy and tactics. Horlow: Person/Longman, 2005. p. 8.
83 Movimento cristão dos fins do século XVI e primórdios do seguinte. Basicamente defendia que cada congregação determina seus próprios assuntos, sem se submeter a uma autoridade superior, sejam bispos ou presbíteros. Cada igreja isoladamente é considerada como independente e autônoma.
84 HILL, Christopher. O século das Revoluções. São Paulo: Unesp, 2012. p. 137.
85 Apesar de possuírem certa vantagem, na medida em que eram melhor financiadas, as tropas do Parlamento tinham dificuldade de conduzir a guerra, entre outras razões, pela divisão existente entre os comandos. Assim, no final de 1644, uma disputa sobre a conduta da Guerra desenvolveu-se entre Henry Montagu, Conde de Manchester, um dos principais generais, e seu tenente-general, Oliver Cromwell. Este reivindicava um maior aporte de recursos para o exército. Como resultado, o new model army foi implementado, planejado para ter 11 regimentos de cavalaria de 600 homens cada, 12 regimentos de infantaria de 1200 homens e mil dragões (infantaria a cavalo). A reformulação do exército do Parlamento foi completada pelo Ato de Abnegação (Self-Denying Ordinance), aprovado em abril de 1645, pelo qual os membros do Parlamento que tivessem postos militares deveriam a eles renunciar.
86 Movimento político republicano e democrático que teve origem durante os anos de 1645-1646 em Londres. Tinham esse nome porque eram acusados por seus detratores de querer “nivelar o status social” das pessoas.
87 “Graúdos”. Era como a soldadesca chamava os oficiais generais do exército, como, por exemplo, Cromwell, quase sempre ligados aos independentes.
88 HILL, Christopher. O século das Revoluções. São Paulo: Editora UNESP, 2012. P. 154.
89 HILL, Christopher. O eleito de Deus, Oliver Cromwell e a Revolução Inglesa. São Paulo: Companhia das Letras, 2001. P. 159.
90 Court of High Commission foi, na época de Tudor e Stuart, a mais alta corte eclesiástica da Inglaterra. Ela tinha o poder de censura e de estabelecer punições por razões religiosas.